sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Começo, meio e sem-fim


Eu não sei. Não sei o que se passa pela minha mente neste momento. Não sei o que aconteceu a mim mesma. Alguma coisa deteriorou a minha alma tão profundamente, que já nem consigo construir meus castelos de palavras, de sonhos.
Me dê a sua mão, me leve consigo. Estou perdida em um canto dentro de mim. Por favor, me encontre. Me encontre para que possamos nos perder juntos em um lugar bem longe. Me tire daqui; ofereça-me seu cálice de palavras pintadas de ouro que têm gosto de pedaços do paraíso.
Quero me afastar de mim. Quero me aproximar de você para me encontrar novamente. Quero enlouquecer para recobrar a sanidade, pois não estou sã e muito menos louca. Quero sofrer pelos motivos corretos e ser feliz pelos caminhos mais duvidosos.
Deitada em minha cama, mal posso esconder meus sintomas. Sinto-me fraca, e fraca de alma. Não tenho mais a vitalidade de um coração jovem, por mais que o seja. Sinto-me enterrada num lugar muito mais profundo que meu corpo; sinto-me afundar lentamente por entre os devaneios líricos que me submeto todos os dias.
Meus olhos estão se fechando. Me refiro aos olhos do coração. Não mais enxergo as belezas do mundo ou a simplicidade de gestos de carinho, cotidianos. Preciso de carinho. Faça-me ver a pureza e a magia de um abraço, de um beijo. Preciso de você. Aqui. Agora.
Não me abandone, nem que eu te suplique. Não deixe de me entender, mesmo que minhas palavras e meu jeito sejam turvos. Não se deixe entrar no meu jogo. Não sinta-se envolvido pela minha aparente frieza. Eu sou mais que isso, eu juro, mas ainda não consigo demonstrar. Entenda que eu, mais do que ninguém, sou enganada por mim mesma. Caio nas minhas próprias armadilhas e deixo-me seduzir pela contraditória facilidade da estrada da solidão.
Eu sei que ainda posso ser salva. Eu sei que posso sair daqui. Eu sei que ainda tenho conserto. Eu sei que posso ser desmontada e reconstruída. Só não sei por onde começar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pobre Sofia


Sofia deitou-se em sua cama e afogou seu rosto nos lençóis, no travesseiro. Sentiu o tecido macio roçar em sua tez e fechou os olhos. Apurou seu olfato e respirou fundo; inspirou tão profundamente que pareceu preencher o vazio em seu peito com a lembrança daquele abraço. O abraço que, há alguns dias, a havia deixado sem palavras, confusa.
Primeiramente, ele estendeu uma das mãos para acariciar o seu rosto. Sofia ficou desconcertada com o carinho e o calor e a maciez proveniente dele, mas conseguiu não fechar os olhos. Um sacrifício imenso, mas que representou sua relutância em admitir o efeito que o gesto lhe causou. Ela olhou no fundo de seus olhos, tímida, e ele a puxou para si, a envolvendo com os braços. As mãos dele fizeram uma pequena pressão sobre as costas de Sofia, que, dessa forma, pôde sentir seus corpos mais próximos.
Sofia acomodou sua cabeça no ombro do amigo e aspirou profundamente. Queria guardar seu perfume, pois sabia que não o veria em breve. Ela respirou ele próprio e, tendo a vantagem de ter seu semblante livre da visão do rapaz, fechou os olhos. Fechou os olhos para resguardar seus sentidos, unicamente, aquele abraço.
Agora, na intimidade de seu quarto e sob a segurança do cobertor, se perguntava o que havia, de fato, acontecido. Ela não imaginava ter aquele tipo de sensação ao ficar tão próxima dele. Poderia até ter cogitado essa hipótese, mas negou para si mesma tantas vezes que a esqueceu.
Uma série de sentimentos invadiu seu peito e mente. Ela queria saber o que foi, o que era e o que significava aquilo que estava sentindo. Foi algo tão profundo que varreu todo o histórico de preocupações e pensamentos da cabeça da garota. Pareciam estar ausentes os males do universo.
Ela estava profundamente apaixonada no momento. Mas se perguntava o que aconteceria depois, afinal, esta onda de emoções pode ter sido fruto da carência que estava sofrendo há algum tempo. Sofia parou e se perguntou se o queria. Se o queria ao lado dela, podendo ter seus carinhos à disposição, seu calor a envolvendo, sua boca a dissolvendo. Não obteve resposta alguma. Ela não sabia. Simples assim.
A única coisa que sabia era que alguma coisa a preencheu depois daquele abraço. Algum vazio dentro dela mesma deixou de existir ao ceder espaço aquele gesto carinhoso e, talvez, demasiadamente romântico.
Sofia era um enigma para si mesma e queria que alguém o desvendasse. Ela suplicava por isso, mas era uma pessoa muito difícil de entender. Ela estava de joelhos, gritando e implorando por alguém que pudesse decifrá-la. Ela estava suplicando por carinho, por amor. Ela estava, definitivamente, apaixonada por ele e, por mais que ele fosse tão diferente do cara que tanto idealizou em seus sonhos, o queria sim. Mas não sabia. Sofia não sabia de nada.
Pobre Sofia.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Eu queria me vestir de sol
só pra fingir por um dia apenas
que o céu tem a cor do meu violão.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ele olhou-me nos olhos. Diferentemente dos outros, ele não simplesmente me viu. Ele me enxergou, me notou. Foi durante alguns segundos apenas. Após esse momento memorável, não pude mais narrar. Baixei os olhos. Talvez ele tenha baixado os dele igualmente. Não pude ver. Minha visão foi preenchida pelo asfalto. Pela cor fria do asfalto. Meu encabulamento foi maior que meu desejo de sustentar aquele olhar. Olhar sincero, caloroso. Olhar meigo, cativante.
Provavelmente, nunca mais nos encontraremos. O momento foi e passou – mas não por completo. Permanece em minha mente, nos meus pensamentos. Está dentro de mim. Teve-me como protagonista. Ficará para sempre na minha história.
Não nos conhecemos. Não nos conheceremos. O encanto está presente na circunstância. Na ilusão. Nas fantasias. No desejo de desvendar o outro através de um olhar, apenas. E talvez a maior gratificação seja essa: não poder desfazer o enigma. Mergulhar num nebuloso filme em que o outro é aquilo que sempre se desejou. E por mais que não o seja, o será eternamente após o encontro daqueles olhares esperançosos, curiosos, sedentos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tudo se confundiu de uma maneira tão profunda que cheguei a esquecer das minhas paixões... a cama me pareceu tão convidativa e confortável; os pensamentos negativos e a auto-crítica se tornaram meus melhores amigos.
Eu queria esquecer de tudo, mas não ao ponto de esquecer de mim mesma. E nisso eu falhei, errei. Vivi por um tempo aprisionada dentro de mim mesma. Me perdi dentro de mim. Não soube achar os termos corretos e muito menos a vontade, o desejo. Esqueci as minhas vontades, desejos, aspirações. Minha visão foi tomada pela dor e embaçada pelo sofrimento.
Não ligo se há repetição de palavras. Esse é um texto de desabafo. Preciso me reacostumar a escrever as coisas certas, no momento certo, no tempo certo, no ritmo certo. Faz tanto tempo que eu chego a ver as palavras tão surpresa quanto veria um parente desconhecido.
Me desculpe por tudo. Eu não deveria ter sucumbido, não deveria ter te deixado de lado. Mas assim foi. Agora não dá pra voltar atrás. Agora posso simplesmente tentar te recuperar, e começo desde já.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Versos de Orgulho



O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além …
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !

O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
O jardim dos meus versos todo em flor…
A seara dos teus beijos, pão bendito…

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…
São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

Florbela Espanca.

terça-feira, 23 de março de 2010

Caminho para trás. Meus passos são retrógrados. Minha vida é uma ré.
Nunca avancei o sinal. Estive sempre em velocidade baixa. Se atropelei alguém, um dia, foi com a fúria dos meus sentimentos.
Não entendo! Por que ninguém me vê? Estou dirigindo tão lentamente...
Meu carro é defeituoso, ou talvez seja apenas diferente? Será que está coberto por algum tipo de magia? 
Nele só existe eu, e olha, é suficiente. Mal consigo colocar todos os meus sentimentos aqui acomodados! Alguns quase saem. Quanto perigo... poderiam ser atropelados. Poderiam morrer. Se morressem, eu estaria fadada ao fim.
Mas a verdade é que não me importaria em ter de apertar um pouco as coisas aqui dentro se fosse para acomodar alguém. Se fosse preciso, daria o meu lugar, meu único abrigo! 

sábado, 20 de março de 2010

Violino

Na primeira vez que Lisa passou diante daquela loja, seus olhos brilharam. Seu coração ficou espantado. Ficou boquiaberta!
Como poderia existir no mundo inteiro algo semelhante? Por que, logo ela, foi encontrá-lo?
Lisa nunca havia visto ou imaginado tamanha beleza e graciosidade. Na época, contava sete anos; estava no auge da infância. Mas aquele encontro extremamente casual e planejado pelas constelações e outras dimensões tirou-a do eixo, moveu-a. Mais que isso: comoveu-a.
Os dias seguintes pareceram infernais! Ela queria tanto, mas queria tanto vê-lo de novo. A mãe relutava em levá-la ao local. “Menina, deixe-me em paz! Mas quanta insistência!” era o que sempre respondia aos pedidos seguidos e constantes da filha.
A criança estava com o coração partido em milhares de pedaços reluzentes. Como poderia sua mãe ser tão cruel? Na sua inocência, mal sabia da existência de tamanha maldade! Era muito pedir aquilo? Ela só queria vislumbrar perante seus olhos aquela linda madeira revestida por verniz, que brilhava ao toque gentil do sol; que tinha um formato engraçado, nunca antes visto por ela, mas que era lindo!
Após uma semana de desejos insaciados, a mãe finalmente lhe perguntou: “Mas o que é tão interessante naquela loja, menina?”, ao que a filha prontamente respondeu: “Mas que pergunta, mamãe! Você não viu? É uma pena. Não sei explicar! Se me levar posso mostrá-la!”. E foi o que sucedeu. A mãe pegou a filha pelo braço e guiou seus passos até chegar ao local.
A garotinha segurou com a maior força que podia a mão direita dela. Levou-a, sentindo o júbilo crescer dentro de si mesma, ao encontro daquele objeto inesquecível e incrivelmente belo.
- Minha filha... – a mãe mal conteve as lágrimas dentro dos olhos.
- Não é lindo?
- É perfeito, minha menina! – respondeu, emocionada.
- Compra pra mim? É o que mais quero no mundo!
- Eu não posso... não temos dinheiro para isso. – disse, baixando a voz no final da frase.
- É só a gente juntar!
A mãe percebia, penosa, que levaria uma vida inteira até conseguir a quantia necessária para adquirir aquele violino. Entretanto, não quis destruir os sonhos daquele ser tão pequenino, que carregava metade de seu código genético.
- Sim, sim, é possível. Mas agora vamos, se não ficará muito tarde!
Os dias e as noites passaram a ser longos demais na percepção da garota. A toda chance que tinha de perguntar para mãe se o montante de dinheiro já era suficiente, não o fazia diferente.
Sempre que encontrava moedas largadas pelos cantos as colocava no cofrinho com o qual a mãe a havia presenteado. A progenitora, por sua vez, trabalhava arduamente para realizar o sonho da filha; o sonho que tanto a deixara emocionada e orgulhosa. Oras! Sua pequena desejava aprender música! Não era ela uma mãe de sorte?
A menina passava as noites em claro ouvindo seu vizinho mal-humorado tocar as melodias mais mágicas. Imaginava-se perante uma plateia enorme interpretando as mesmas canções!
Um belo dia, durante sua caminhada matinal, ajudando a mãe a entregar as roupas lavadas nas casas dos clientes, encontrou o vizinho sentado num banco, com o violino no colo. O homem era barbudo e descabelado; parecia miserável e estava com o mesmo semblante austero de sempre.
A garota arregalou tanto os olhos, que chamou a atenção do velho.
- O que é? Nunca viu gente?
- Desculpe-me, senhor, não queríamos incomodá-lo. – disse a mãe.
- Que violino lindo o senhor tem! Estou juntando dinheiro para comprar um!
- Então a garotinha gosta de música?
- Sim, ela gosta. Ficou encantada com o violino que está na vitrine daquela loja da Rua Celeste. Mas, sabe como é, muito caro!
- É um roubo! Esse país não incentiva os jovens músicos.
Os sonhos da garota cresciam a cada dia. A cada mês.
Já haviam se passado três anos.
No seu décimo aniversário, ganhou uma boneca sem roupas e de rosto riscado. A mãe encontrou-a no lixo de um de seus clientes e resolveu dá-la para a filha.
- Obrigada, mãe.
- Sei que não era isso que você queria... sei que tenho te decepcionado desde seu último e único pedido, mas quero que saiba que ainda estou guardando o dinheiro para que, um dia, possamos comprar seu violino tão desejado.
- Obrigada, mãe. E você não tem me decepcionado! – respondera, sorrindo.
Foi a partir desse dia que alguns pensamentos passaram a ocupar sua mente. A garota começou a imaginar realmente como seria ter o instrumento perto dela, como seria pegá-lo todas as manhãs. A verdade é que o medo invadiu sua alma.
Depois de um tempo relativamente grande, no qual decorreram-se os últimos anos da infância e iniciou-se sua pré-adolescência, passou a ter uma visão mais concreta e menos lunática a respeito da vida que levava e dos sonhos que possuía. Passou a temer a realização de seus desejos.
A menina ficava aterrorizada sempre que se imaginava ao lado de seu objeto de maior desejo. Em seus pensamentos, ficava tão feliz com o acontecimento, que mal poderia suportar a ideia de perder aquilo que conseguiu. Era melhor ter um sonho bonito, inalcançável e de finitude determinada pelo sonhador ou uma realidade linda fadada ao fim?
A vida ao redor sempre demonstrava uma falta de sensibilidade tremenda. Ela percebia. Sabia que, ao mesmo tempo em que o mundo nos dá algo maravilhoso, tira aquilo que é essencial à existência de cada um.
Numa bela manhã, a mãe a acordou com um sorriso no rosto.
- Olha isso, filha! Olha!
- O que é, mãe? Deixe-me dormir...
- É um envelope! Estava debaixo de nossa porta quando acordei!
- O que tem aí dentro?
- É a quantia exata que preciamos para comprar seu violino.
A garota saltou da cama. Seu coração disparou.
- O quê?!
- É, isso mesmo! Finalmente! – disse, abraçando-a.
- Mas de quem é esse dinheiro? O que é isso? Uma brincadeira de mau gosto?
- Não sei de quem é. Isso não importa! Alguém nos deu esse presente maravilhoso!
Lisa pegou o envelope das mãos dela. Abriu-o e percebeu que havia instruções. O bilhete dizia que o dinheiro fosse utilizado na compra do instrumento.
- Você não está feliz? Não era isso que queria?
- Não sei se devo, mãe.
A mãe foi trabalhar como todos os dias. Quando chegou à porta de casa, percebeu uma movimentação estranha no cortiço. Foi ver o que era.
- Tomara que descanse em paz! Ele já aparentava mesmo estar mais pra outra que pra essa.
- O que aconteceu?
- Não soube? O velho violinista morreu!
- Morreu? Que coisa horrível!
- É. Parecia que estava num péssimo estado mesmo. Uns garotos foram checar se havia algo de valor na casa dele e nada! Só aquele violino empoeirado. Queriam roubar alguma coisa, mas se desapontaram! Nem dinheiro tinha!
- É uma pena que ele tenha morrido desse jeito.
A menina agora passava aflita, todos os dias, em frente à loja musical. Olhava para o violino, o seu violino, sem saber se o queria. Desejava-o, mas não sabia se tinha vontade de tê-lo. Oferecia-lhe seu amor, mas não sabia se seria capaz de concedê-lo.

domingo, 14 de março de 2010

Não acredito no amor,
Nem nunca, verdadeiramente, vou acreditar.
Mas o pior de tudo é que sei:
Um dia chegará alguém que vai me mudar
Pra depois me largar.
Não acredito no amor.
Disso tenho certeza...
Mas o pior de tudo é que sei:
Gente como eu, desacreditada, é
a coisa mais deprimente quando
fica apaixonada...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Olho ao meu redor e não vejo nada. As coisas me olham de volta e, igualmente, não vêem nada. Sei bem que há muito entre o nada e o tudo, porém não consigo enxergar.
Sinto mais que tudo, embora esse tudo seja invisível perante os olhos de outrem. Sou invisível, mas sei que há gente que me vê. Gente que tem capacidade de sentir com a alma e não com os olhos. Gente que tem capacidade de ver pelo avesso...

quarta-feira, 3 de março de 2010

A noite é fria. A chuva cai lá fora. Estou sangrando... e meu sangue tem a cor do que me falta. Meu coração está pesado... é o peso do mundo inteiro sobre mim. Minha alma está sombria, e as sombras são as lembranças daquilo que nunca vivi. Já não possuo lágrimas, mas sei que se as provasse teriam o sabor amargo da minha ausência. A alma é tênue e cinza; lembra uma tarde de inverno em que as ruas estão vazias e as pessoas não saem por causa do frio ou da chuva. E meu olhar está distante, pousado sobre o lugar-ideal que sempre será meu refúgio, meu abrigo, minha fuga dos desmoronamentos e destruições que rondam minha morada.

terça-feira, 2 de março de 2010

Soneto do universo

As horas passam...
O tempo vai se esvaindo...
E eu me redimindo por mim...

Eu, aqui, sentada...
Como quem não quer nada...
E a vida lá esperando por mim...

O tempo - borboleta de asas
frenéticas e cansadas que
nunca desistem de seu rumo -
já cá veio me alertar:

O mundo não te espera,
muito menos exaspera...
É, assim, sutil. Cabe a você
próprio se domar...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

just a mess.

Bom, resolvi fazer um novo texto; chega das palhaçadas que eu tenho escrito por aqui.
O blog está meio abandonado, não tenho tido muito tempo para escrever coisas novas ou divulgá-lo por aí por causa da minha vidinha de pré-vestibulanda, mas isso não vem ao caso...
A maior parte das coisas que tenho escrito foram produzidas durante alguma aula, por isso ficaram ruins: não consigo me concentrar com gente ao redor.

-

  Sentou-se na cadeira. Parou, refletiu. Milhares de ideias surgiram na sua cabeça, mas nenhuma delas veio à tona.
  As mãos coçavam, suavam, estavam frias. A mente inquieta o impedia de respirar. Esperava por algo surpreendente, inovador. Sentia algo surpreendente, inovador. Sentia tantas coisas que não conseguia focar-se num só sentimento. Era impossível passar aquilo tudo para o papel que estava à sua frente.
  Ele queria gritar e sair por aí falando tudo o que vinha a mente. Queria expor tudo o que sentia. Mas o peso de seus sentimentos não o deixava se locomover ou ao menos pronunciar alguma palavra que tivesse algo a ver menos com sua cabeça do que com sua alma. O que o impedia de desistir era a ideia de escrever, se fazer leve. Mas escrever ele não podia. Nem pensar ele podia. Estava tão intenso, em si mesmado, que seria um alívio tirá-lo daquele estado.
  Mas ele desejava algo muito além do que ele mesmo sabia que queria. Ou alguém. Para libertá-lo e torná-lo mais leve. Para distrai-lo e diverti-lo. Alguém que desejasse senti-lo perto de seu corpo, ouvir sua respiração, abraçá-lo forte e sutilmente. Alguém que pudesse chegar mais... perto.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Reflexão íntima

Há tantos espaços, tantos vácuos e vazios, tantas interferências entre a alma e o corpo, entre a ação de ser e o próprio ser. Há uma coisa chamada senso, filtro.
Há tanto de você nas coisas que escreve, que até assusta. E assusta porque você tem medo. Medo de decepcionar aqueles que se atentam a sua escrita. E isso devido ao fato de que você é tudo aquilo que transparece através da escrita, mas não simplesmente isso. Não esqueça do filtro, leitor. Ele está aí para todos.
Há a alma, pura e simplesmente. E essa você conhece como ninguém. Melhor até mesmo do que aqueles que convivem com o escritor. Mas também há uma coisa chamada "jeito", e este é um desconhecido. Você pode imaginá-lo, criar expectativas a respeito dele, mas nunca será certeiro.
Seria a alma mais importante que tudo? Não acho. O conjunto é o que importa, o pacote, a união. Ter uma coisa sem a outra é como pisar sobre um terreno desconhecido de olhos vendados. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quando escrevo
eu vivo, eu morro.
E me faço nascer, 
me crio, me invento.

Quando existo
eu morro e só morro.
E me faço renascer, 
por mais difícil que seja.

Quando deliro
eu vivo e só vivo.
E me deixo levar pelo
meu mundo convosco.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

"Nada alterava o fato de ela ser uma menina magrela e perdida em mais um lugar estranho, com mais gente estranha. Sozinha."

A Menina que Roubava Livros, Markus Zusak.

-

Tentação

   Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
   Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
   Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
   Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
   A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
    Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
    Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
    Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
   No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
   Mas ambos eram comprometidos.
   Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
   A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.
   Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

Clarice Lispector

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Contemplação Filosófica

Faço uso de ti
para te escrever,
para nos escrever
e me reescrever a cada dia.

Faço que não sei,
mas sou um laço
no qual eu própria
me apeguei.

Faço bolhas na minha
cabeça de vento para
não admitir o que invento;
não sinto.

Faço que não me vejo,
embora enxergue;
sinto tudo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Delírio durante alguns minutos naquela sala


Enquanto a chuva caía lá fora, estive cá dentro; enrolada e algemada nos meus próprios pensamentos.
Queria estar perto de alguém... alguém que não existe. Ou existe? Não sei. Mas as ilusões já chegam a encharcar minha mente doente e contemplatória.
Tenho tanta coisa, mas não posso mostrar o que invento ou sinto... é demais para o momento; é demasiado complexo acompanhar meu pensamento. Mas se quiser me ler, deixarei.
Por favor, leia-me. Sou cheia de espaços, mas também cheia de montes altos... Por favor, preencha-me.
Mas eu estou perdida, e não acredito em mais nada. Minhas esperanças transformaram-se em vácuos e a tristeza vem dos lugares mais inesperados.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Garota interrompida

Neurônios latentes.
Nervos extremamente conscientes.
Corpo aflito.
Abafado grito.

Canção do vento.
Perdido momento.
Criatura do luar
Aquiesce.

Vastos campos
de cetim, diamantes
a procurar...

Símbolo vil
este que se abriu
a devastar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ma Petit

Sou pequenina como
a formiga que tenta
sobreviver perante gigantes.

Sou intensa como
a paixão fulminante e
impossível dos sonhadores.

Sou invisível como
o perfume doce
que viaja através do tempo.

Mas sou tão grande...
grande do jeito que ninguém
jamais me viu.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Momento III

O momento de cada instante
passa como a delícia das infâncias
e brinca e se esconde dos
meus sentidos.
Posso sentir sua suave brisa,
seu dissimulado halo, mas não
posso enxergá-lo.
Vai, assim, se esvaindo, até que
acaba por acabar.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Conto de uma vida

À mercê do tempo, a contar as lágrimas
Evapora a vida aos poucos;
Morro de algo invisível, impossível
Que ninguém diz, que ninguém sabe -
Esse que jamais ouviu a verdade
Que ecoa dentro da alma e enche
O pensamento a transbordar de
Lamúrias, versos que nunca soube dizer.

Que alguém mande dos Céus um
Presente Divino que me faça acreditar
Que estimo a jornada do viver. Senão,
Creio que posso morrer de tanto pensar
E de tanto saber e de tanto penar
Neste infinito sofrer que já nem é
Mais amargura: é já vontade de
Inexistir na intensa madrugada
De um tempo alheio,
De uma vida passada.

Por sentir, morro, e, por não
Sentir, morro também...
Me diz: para que permanecer
Se não há paz, meu bem?
Estive desde muito tempo a
Procurar algo que me levasse
Além, e descobri nada, desde então;
Continuo solidificada na estrada da
Solidão, seja por prazer, seja por
Tensão, a esperar que alguém
Me estenda a mão.

Fico por aqui, permaneço, continuo...
Se Deus o quer, não pode ser em vão;
Que o gosto amargo desapareça e que
O cravo seja retirado do meu coração...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Meu ideal seria escrever...

Hoje não vou postar nada de minha autoria. Sinto vontade de escrever, mas ainda não sei sobre o quê. Segue abaixo a crônica "Meu ideal seria escrever..." de Rubem Braga. Linda!

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Soul

Eu? Sou aquela que se perde na noite entre tantas ilusões. Sou a brisa que vaga pelos lugares esquecidos ou nunca desvendados. Sou a sombra de alguém que deveria ser e não é. Sou o coração que esqueceu de se recompor. Sou a história que nunca ninguém contou. Sou a canção que nunca foi composta. Sou o poema sem rimas e cheio de sentimentalismo que ninguém pôde escrever. Sou o céu estrelado que dificilmente alguém vê. Sou o livro de páginas amareladas deixado de lado no fundo da biblioteca. Sou a mentira mascarada pela coisa certa. Sou o vulcão que tem medo de explodir. Sou a mulher que tem medo de não existir. Sou um pedaço do caminho errado. Sou o castelo assombrado. Sou a vida que não foi. Sou o mundo que tenho dentro. Sou o amor que nunca vingou. Sou o sonho de alguém que nunca amou – e nem amará. Sou a chuva que cai e molha o seu rosto. Sou o que sou, embora, às vezes, seja totalmente o oposto.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A solidão é uma coisa compartilhada. Por mais que não se veja, ao redor, os que sofrem desta mesma sintonia. O que se pode afirmar a partir dessas considerações é que todos os abandonados pelo mundo nesse universo próprio e solitário gostariam de encontrar pelo caminho aqueles acometidos pelos mesmos erros, ou quem sabe, acertos.
Solidão pode ser estado ou permanência. Quando é que se sabe que se passa de um nível a outro? Deve ser quando além de você não receber mais telefonemas, não quiser recebê-los, porque você, simplesmente, não conhece alguém que possa te ligar ou já esqueceu da sensação de ser lembrado.
Os solitários são desconectados. Alguma coisa se rompeu no seu caminho de comunicação com o resto da sociedade. Muitos deles preferem fazer proveito de sua própria situação. Outros muitos sofrem com a mesma.
Quando será que dão início ao ciclo? Deve ser a partir do momento certo em que são concebidos na barriga de sua mãe, onde tudo parece tão calmo e tranqüilo. A partir do nascimento tudo fica mais confuso. Aquela sensação uterina parece ser demasiado prazerosa para ser desperdiçada. Afinal, quando se está abandonado à própria sorte, ninguém se mete em seu caminho, não é preciso lidar com as divergências do outro ou aceitar seus defeitos. Só é necessário aprender a suportar a si mesmo, na sua solidão.

Ao som de Cat Power e sua “Fool”.
Texto tosco e sem nexo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Hein?!

Eu sinto milhares de coisas ao mesmo tempo, e todas tão intensas, que já nem sei se posso defini-las. Já misturo todos os sentimentos e não percebo mais os que me trazem felicidade ou o oposto.
Na verdade, sei muito bem, mas não quero saber, tenho medo de saber e, mais ainda, de admitir. Sei que minha vida é uma desgraça e um erro fatal da natureza, mas sinto que gosto de sofrer. Uma vida vazia não vale nada, enquanto uma vida que seja recheada, ainda que de sofrimentos e lamúrias, dá idéias pra nossa cabeça, fortalece o raciocínio, embora enfraqueça o coração.
Sei que os milhares de personagens que invento não são nada mais, nada menos, que eu mesma. Mas é duro aceitar a hipótese, e pior ainda, é mostrar aos outros o que você é e o que sente, dando a cara à tapa, admitindo que o que te motivou a escrever aquilo foram seus próprios sentimentos, que a sua obra está transbordando de tanto você mesmo.
Se eu quero mudar? É claro. Não sei por onde começar. Não sou muito boa fazendo amigos, pelo contrário: sou tímida e anti-social. As mulheres me odeiam, mas os homens muito mais. Sou uma figura perdida pelo universo, sem ter um álbum em que ser colada, sem ter uma vida onde possa ser encaixada. A única coisa que posso fazer é isso aqui. Escrever sem pretensões de ser notada, para desabafar, embora com medo, pois como diz Clarice Lispector: “...tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”

PS: Não é pra entender.
PS2: Obrigada, Deus, por me permitir escrever. Já estou bem melhor depois disso.
PS3: Agradeço também aos que lerem e comentarem.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

C'est la vie

Às vezes, sinto por ser aquilo que nunca fui e nem serei. Entristeço-me por perder as palavras quando as mesmas chegam à boca. Desespero-me por não tornar meus pensamentos em atos. Fujo por perceber que serei contrariada. Fico por saber que não haverá pedras no caminho. Minto por não querer revelar meus verdadeiros sentimentos. Choro por querer engolir a própria tristeza. Sorrio por desejar esconder o que se encontra no peito. Durmo por não gostar de encarar o vácuo do dia. Escondo-me por vontade de enganar o destino. Escuto por ter coisas demais ou de menos a dizer. Iludo-me por não querer acreditar num mundo vão. Toco por ser motivo de libertação e paixão. Escrevo por ser caso de desabafo. Estranho-me por ser alheia à multidão. Gosto por não ter quem amar. Crio por não ter onde encaixar. Desmotivo-me por não saber viver.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

10 coisas sobre a minha perturbada identidade

1. Já fiquei sem cortar o cabelo durante um ano, em função do assédio do cara que lavou minhas madeixas.
2. Tenho medo de me apaixonar e, ao mesmo tempo, vontade.
3. Tenho 17 anos e me sinto muito mais jovem.
4. Vivo num mundo próprio, de onde tiro inspiração para os meus textos que não são tristes.
5. Nunca me apaixonei, apesar de já ter tido diversos amores platônicos.
6. Tenho a sensação de ter vivido coisas que ainda não vivi.
7. Tenho medo do escuro e de “espíritos”.
8. Sinto-me carente.
9. Já fiz coleção de insetos.
10. Tomo remédios psiquiátricos, mas já estou parando.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Momento I

A alvorada se aproxima e
minha mente se angustia
com a possibilidade de
um novo dia.

Meu corpo está frio e
minha alma gelada;
como num cárcere
sinto-me aprisionada.

Apesar disso, a
liberdade do pensamento
aguça a esperança e traz
o esquecimento da ferida.

Desejaria libertar-me e
encontrar-te, senão fossem
meus medos, minha pele,
minha estrada.

besteirinhas

eu sou uma estrela que de súbito aparece
num céu onde não há mais estrelas.
eu sou uma flor que brota na terra não fértil.
eu sou uma canção num mundo em que não há mais música.
eu sou uma estrada em que não há fronteiras.
eu sou namorada sem ter namorado.
eu sou amante em um mundo sem amor.
eu sou um grito abafado, um sorriso calado
um olhar inocente, um pensamento incoerente
uma menina sem rosa e talvez até sem cor.

-

Eu sei que a vida é muito mais do que eu vejo, muito mais do que eu sinto ou tenho. Eu quero mesmo é sair por aí, desfrutar de toda essa beleza que me é disponível e que eu simplesmente não vou buscar, talvez por medo. Eu quero é me sentir livre de toda e qualquer obrigação, responsabilidade, pressão ou comprometimento que a vida que eu vivo exige. Eu tenho uma alma maior, que quer se expandir, que quer sentir, que quer ser livre e, ao mesmo tempo, pertencer a algum lugar. Eu quero ser mais que feliz; eu quero ser plena. Não quero ser amada, não quero ser aceita; quero apenas ser respeitada.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Mia

Mia passava horas em sua cama, deitada, de bruços. Não dormia, mas por alguns momentos sentia-se ausente do mundo, imersa nos próprios devaneios, ilusões, pensamentos.
Ela esperava, desde muito tempo, por alguém que não conhecia. Nada sabia sobre a cor dos seus olhos, a graça de seu caráter, o encanto do seu sorriso ou esplendor de sua companhia. Não o via, nem ao menos sabia algo concreto sobre sua existência.
Tinha tanta certeza de que estava em algum lugar, por aí, perdido pelo universo, privado da beleza dos momentos que teriam juntos, dos sentimentos que compartilhariam, da vida que teriam. Angustiava-a a idéia de que estava perdendo tempo, enquanto sua alma gêmea caminhava vazia pelos cantos e becos das cidades, por sentir a falta de quem a completasse, esse alguém que era ela, Mia.
Sentia-o tão perto enquanto estava ali, deitada em sua cama. Era como se ele estivesse presente, embora invisível. Podia mesmo sentir seu toque, seu cheiro, seus beijos. E isso a enlouquecia, de certa forma que Mia só queria sumir do mundo e não mais enfrentar sua vida vazia.
Ela só desejava entrar num quarto escuro e permanecer no chão até que o universo não se lembrasse da sua existência. Queria dormir por todo o sempre, pois nos seus sonhos sabia que o encontraria.
Mia sabia que sua vida não possuía mais sentido, se é que algum dia já teve. A oportunidade de encontrá-lo seria a mesma de ficar frente-a-frente com seu futuro, anseios, desejos; seria a mesma que a preencheria.
Mia era só Mia. Uma garota qualquer, sem cor, sem nada.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Timidez

Ela estava lá, sentada numa das muitas muretas cor-de-asfalto daquele lugar. Parecia ter brincado com os dedos por horas. No início, o coração saltitava, mas agora estava calmo, embora sentisse pontadas de angústia.
Decidiu levantar a vista. Viu-os por todos os cantos, aqueles meninos e meninas cochichando, conversando, correndo. Desejou estar lá, se mover, mas seu corpo estava enterrado naquele ar ofegante, sufocante das pessoas à sua volta. Desejou ir embora, mais do que tudo.
Ela estava tão sozinha, tão triste. Mas parecia que ninguém notava sua ausência ou sua presença; parecia que já havia deixado de ser uma figurante do mundo para fazer parte do vento que transportava todos aqueles sons de alegrias e odores misteriosos da felicidade alheia.
Ela chegava a preferir morrer a viver assim. Mas o que não percebia era que morria em vida a cada passo que dava, a cada riso que escutava, a cada beijo ou abraço que presenciava. E morria de uma dor intensa que aqueles que estavam ao redor jamais sentiriam e nunca seriam capazes de descrever: eram felizes demais para isso.
E ela se deixava enterrar cada vez mais naquele poço de lamúrias e angústias. Passava a deixar de desejar tudo o que antes queria, pois no momento sua única necessidade era uma anestesia para acabar com as dores do próprio mundo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Garotas I

Ela sentou-se na cama; em seguida, caiu de costas nela. Por um momento ficou sem pensar em coisa alguma; nada passava pela sua cabeça, literalmente. Parecia que estava numa espécie de transe: olhava para o teto amarelado mas não o enxergava. Virou-se de lado. Analisou o perfume dos lençóis, do travesseiro. Ele esteve ali. Ele fora visitá-la por alguns poucos minutos. Naquele momento, já havia partido.
Deve ter ficado uns quinze minutos desse modo. Quando voltou para si, sentiu-se envergonhada por recebê-lo naquela bagunça que era seu quarto; mas não se arrependeu. De forma nenhuma.
Ela havia esperado tanto por aquela oportunidade, e passou tão rápido; nem notou os ponteiros do relógio anunciando a despedida. Foi tudo mais efêmero e lacônico do que havia imaginado, mas foi melhor ainda.
Ela queria ter sentido o seu gosto, mas não pôde. O momento era tenso demais para esse tipo de coisa. Na falta da capacidade, ficou a imaginar que sabor ele teria: morango. O que mais poderia ser? Sua pele branca como neve e rosada, seus cabelos intensamente pretos, como os olhos. Os lábios carnudos – e indiscutivelmente macios, era o que se podia dizer mesmo sem tocá-los – e vermelhos...
Imaginou o que teria acontecido se tivessem se beijado. Aquelas lábios voluptuosos pulsariam sobre os seus, o que os tornaria muito mais vermelhos e quentes. Sua saliva entraria em contato com a dela e se transformaria em um vício, um torpor indescritível. Sua língua acariciaria cada milímetro da misteriosa boca da garota e arderia numa volúpia insuportável. Suas mãos calorosas passeariam pelo seu corpo. Sua boca desceria pelo seu pescoço. Seu perfume ficaria impregnado na pele dela.
Sim, o seu perfume. Lembrou-se dele e quase desmaiou. Era a fragrância de alguma coisa doce misturada ao inconfundível cheiro do sexo masculino...
Mas essas eram só lembranças de um sonho insuportavelmente feliz.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Luisa

Luisa queria falar. Mas parecia que as palavras faltavam à sua boca, desapareciam, caíam para dentro, deslizavam pela sua língua até chegar ao estômago, embora nunca fossem digeridas. Cada sílaba não pronunciada era como um vômito ao contrário e deixava cicatrizes.
Luisa permanecia inerte, parada, paralisada. O mundo que girava ao seu redor não mais importava. Os olhos tentavam se esconder, embora a cada vez que eram vislumbrados refletiam a idéia de que o procurado fora achado.
Luisa pairava no ar, flutuava. Sentia as nuvens sob os seus pés e a lua embalar a noite sobre sua cabeça.
Luisa gostava da noite assim, fria, para que pudesse se aconchegar nos próprios braços ao som de outros passos; para se enlaçar em seu corpo ao admirar outro porto.
Luisa negava, embora sorrisse e, assim, consentisse.
Luisa queria tanto, mas tanto, que não conseguia. Quando olhava para ele toda a sensação da noite anterior renascia. Não encontrava maneiras de se aproximar, nem mesmo de se desapaixonar.
Um dia, Luisa ao invés de engolir as palavras, engoliu a euforia e toda aquela chama, que decidiu: não mais transpareceria. Disse algumas palavras, percebendo que por dentro morria. Ele fora muito gentil, e ela notara que desnecessária ansiosidade sua mente fortalecia.

*Inspirada pela música “Cherry Blossom Girl” da dupla Air.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Catarina

O vento estava forte. O tempo claramente anunciava que choveria em breve. Enquanto isso, no seu quarto, Catarina tentava escolher o melhor vestido que tinha. Difícil tarefa.
Ela tirou todas as roupas do armário e colocou-as em cima da cama. Sabia que a mãe reclamaria, mas essa era uma situação de emergência. Separou todos os vestidos num canto, olhou-os de cabo a rabo, pegou-os nas mãos, sentiu seus tecidos, examinou suas cores e seus perfumes. Não resolvera nada.
Já passava das sete e meia. Se não andasse rápido, estaria atrasada.
Pegou um tomara-que-caia rosa, curto, acima do joelho, e foi experimentar. Olhou sua figura no espelho, embutida naquele borrão rosa. Ficara horrível. Apertado demais. As pernas apareciam demais. Em seguida, experimentara um azul claro, abaixo do joelho. Parecia uma freira.
Seus vestidos pareciam simplesmente horríveis naquele momento. A angústia de não ter o que vestir subiu à cabeça, deixando-a estourando de dor. Começara a chorar sem lágrimas, bater os pés sem emitir som algum, – chão revestido por carpete – olhar pela janela ansiosamente.
Olhou o relógio. Ainda restava tempo. Quem sabe não poderia ir à alguma das lojas que ficavam perto de sua casa e comprar um lindo e estonteante vestido? Colocou calças jeans, uma camiseta e tênis. Quando chegou à fachada da casa, percebera que estava chovendo. Voltou e pegou o guarda-chuva florido de sua mãe.
Lá fora a ventania quase não a deixava andar e, se não tivesse segurado um pouco mais firme, teria levado seu protetor de chuva embora.
Andou por alguns metros até encontrar algo interessante em uma das vitrines. Entrou na loja e experimentara um belo vestido verde, justo na medida certa, possuindo o comprimento que nem sabia que desejava. Por fim, comprou-o.
Voltou para casa, maquiou-se, penteou os cabelos, – que àquela altura já estavam com a escova desfeita – escolheu uma bolsa, colocou seus objetos indispensáveis lá dentro. Desceu as escadas e esperou.
Sentada no sofá, lembrou-se de que talvez a ventania levantasse seu vestido. Ela só estava de calcinha. Resolveu colocar um short por baixo.
Desceu novamente. Após ficar alguns minutos sentada, resolveu ir até a janela para ver se ele não estaria chegando. Nada.
Duas horas se passaram e nada de ninguém chegar. O telefone não tocou sequer uma vez. Ela foi até o computador para checar os e-mails; sua caixa de entrada estava vazia. Conectou-se em um programa de mensagem instantânea para verificar se ele não estava on-line ou se havia mandado algum recado para ela. Logou-se num site de relacionamentos para checar as mensagens. Por fim, ligou para ele. Não obteve resposta.
Meia hora se passou. Resolveu pegar um ônibus e seguir até o local que haviam marcado de ir. Pegou novamente o guarda-chuva, que não combinava nem um pouco com o vestido, e foi para o ponto. Nenhum ônibus passava naquele feriado. Após quarenta minutos de espera, voltou para casa, desanimada.
Continuou sentada no sofá até o anoitecer. Chegou a cair no sono. Passou a noite lá, sem perceber. Acordou de manhãzinha e ligou novamente para ele, que não atendeu.
Foi para o quarto e enterrou a cabeça nos travesseiros. Chorou, nem sabe-se dizer por quanto tempo. A única coisa que se pode determinar é que aquela parte de seu coração ficara quebrada pela vida inteira.