sexta-feira, 23 de setembro de 2011

noite de setembro

minh'alma latejando
num suspiro lânguido
de tanta paixão
quero sentir

e minhas mãos descendo
pelo seu corpo intenso
num feroz bramir

e nossas bocas arrasadas
por esta fúria apaixonada
a nos ruir

e você me consumindo
e eu te consumindo
e esta conjugação
nos partindo
numa simetria
incontestável
sem fugir

e seus olhos me penetrando
e eu buscando a incompletude
perfeita em ti.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Hoje, vi uma estrela...

Hoje, vi uma estrela:
Cabia na palma da mão...
Mas era de uma formosura
Que não contive o coração.

Tinha olhos de quimera
Feitos, embora seus lábios
Fossem seu pior defeito:
Pecado, tormentos vários.

Minha boca era impelida
À sua, e meus esforços
Todos em vão! Nada, nada,
Conseguiu calar a emoção.

Tive que partir, mas ela
Deixou sua marca: o molde
de um sorriso no meu rosto,
feito à faca.

(E agora viajarei noites adentro,
Pensando na estrela que roubou
Os meus pesar e sofrimento...)

domingo, 28 de agosto de 2011

Sem meias palavras,
quebrou-se o encanto:
dissolveu-se no amargor
de amor tanto.

Ouviu-se um grito,
no silêncio,
mas nada foi dito.

Transformado em rancor,
o carinho se perdeu,
e, nas curvas dos sonhos,
nos espaços em branco... eu.

E no final de tudo ainda
restam umas lágrimas, uns
pesares, que de tão carregados
tento reduzi-los a nada.

sábado, 16 de julho de 2011

Ensaio


- Oi.
Eu não sei bem o que dizer, mas eu sinto tua falta – meu Deus, como sinto.
Espero que você não tenha se esquecido de mim. Espero que tuas curvas ainda se lembrem do meu toque e da minha tinta.  Espero que meus dedos tenham ficado marcados para sempre em tua forma. E quando a gente menos esperar, vai acontecer tudo novamente. A explosão das estrelas, fúria e tristeza incandescentes, amores proibidos e inconformados.

sábado, 2 de abril de 2011

Despedida em tom de reencontro


Penso que você nunca vai saber. Jamais saberá o quanto foi importante para mim. Porque nem que eu te dissesse, isso não seria possível. É preciso ser eu. Você precisaria ser eu para sentir a sua importância. Mas isso também não seria possível. Porque se você fosse eu, você seria você, e você não tem o mesmo tipo de importância para você próprio como tem para mim.
É preciso inspirar fundo e soltar o ar pela boca. Fechar os olhos, tentar conter o coração pesado, louco para deixar transparecer uma emoção que não se quer demonstrar, faminto pelo vômito de lágrimas enfurecidas, carentes, perdidas. É, o choro. Ele quer vir o mais rápido possível, quer sair pela porta da frente sem dar satisfação a ninguém mas, antes disso, precisa da minha permissão, e essa lhe será negada, porque eu não quero que você sinta pena, não quero que você se sinta culpado, porque você não tem culpa e eu não preciso de piedade alguma. Você nunca pediu para ser importante para mim, nunca. Se eu lhe dei esse posto não foi porque quis, mas porque senti que você merecia e, realmente, você merece. Só que deveria ter lhe dado uma importância diferenciada, um brilho menos apaixonante; deveria ter depositado em você esperanças menos esperançosas, significados menos significantes.
Eu também não quero chorar porque tenho meu orgulho, essa coisinha que nos faz tomar atitudes contraditórias, impensadas. Mas acho que ele é bem encaixado nesse momento. Ele é a luz que guia os meus passos nessa estrada escura e fria. Ele me abastece com seu calor e energia, fazendo-me sentir a vida que me foi tirada assim, de repente, quando você decidiu partir, ou quando eu decidi fazer você partir porque não queria sofrer mais, porque meu coração merecia descansar do sofrimento. O orgulho é a linha tênue que me mantém ligada à vida, porque sem ele eu sentiria apenas a tristeza da sua partida, e acabaria morrendo aos poucos, porque ele me dá um sentido a vida, me dá vontade de lutar, nem que seja para não chorar.
Desculpe por isso. Desculpe por ter lhe atribuído sentimentos indevidos. Desculpe por ter feito minha cabeça oca e louca pensar que isso daria certo, quando eu já sabia, desde o princípio, que nós não teríamos futuro algum. Desculpe, porque você não merece ter o peso da minha infelicidade nas suas costas, e ele tentará te fazer cair, porque mesmo que você não saiba de nada e mesmo que não tenha culpa, ele te perseguirá incansavelmente e isso é imutável. Mas quando ele tentar te fazer cair, eu estarei lá para te ajudar, estenderei minha mão e lutarei contra o monstro mascarado pelas supostas cotidianiedades infelizes da vida.
Porque eu te amo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Te amo e não sei seu nome

Quando vi Maria Alice pela primeira vez, ela estava sentada num canto da faculdade. Quieta, com as pernas juntas, apoiando os cotovelos nos joelhos. Ela olhava para baixo, quem sabe para os próprios pés ou para lugar algum. Seu olhar era fixo e sonhador, como se estivesse absorta num mundo interior muito mais interessante ou pelo menos muito mais seguro.
Estava só. Das suas orelhas pendiam fones daqueles que são encaixados no ouvido. Ela abrigava em uma das mãos alguma coisa que eu não podia ver. E suas mãos eram tão finas, seus dedos eram longos e magros, pareciam ser tão macios. Por um momento, desejei senti-los acariciar meus cabelos, meu rosto.
Eu nem ao menos conseguia enxergar suas feições com exatidão. A garota insistia em olhar para baixo, o que me instigava a olhar cada vez mais para ela na tentativa de desvendá-la. Ela me pareceu triste, linda, doce, mesmo permanecendo naquela posição esquisita, da qual não se podia tirar proveito de sua suposta beleza.
Estava sentado num banco. Como Maria Alice, também estava só e mantinha meu olhar fixo. Eu tinha um caderno nas mãos, no qual costumava rascunhar alguns pensamentos, escritos, coisas aleatórias, e um lápis no bolso da calça. Estava ali justamente para procurar alguma inspiração, para tentar escrever algo. Encontrei uma pessoa interessante, mas não consegui escrever uma linha sequer sobre ela. Estava hipnotizado por algum motivo que não conseguia entender. Talvez aquela menina não fosse como todas as outras que também marcavam presença no lugar, ou talvez eu só estivesse ficando louco e desenvolvendo algum tipo de obsessão imediata por uma desconhecida.
Já fazia alguns minutos que estava ali quando Maria Alice levantou o olhar. Aquilo foi um marco na minha vida. Nunca havia visto antes uma mulher com tão singular beleza, com um olhar tão singelo e penetrante e ao mesmo tempo tão acanhado e melancólico.  Seus olhos rapidamente encontraram os meus e me senti culpado por estar a encarando insistentemente. Resolvi desviar meu olhar, mas ela desviou o dela antes de mim. Levantei-me e decidi ir embora.
Pensei naquela garota dias e noites. Voltei aquele lugar várias vezes para ver se a encontrava novamente, mas de nada adiantou. Sua imagem permanecia nítida em minha mente e eu podia até imaginar o seu perfume. Maria Alice havia mexido comigo de uma forma intensa e eu nem sabia o porquê, muito menos o seu nome.
Algum tempo depois a encontrei num dos corredores da faculdade e logo a reconheci. Ela estava novamente sozinha. Maria Alice era uma solitária e eu pude notar esse traço de sua personalidade assim que a vi. Não é preciso conhecer a fundo alguém para saber essas coisas. Um solitário sempre reconhece outro solitário. É simples assim. Nós estávamos caminhando em direções contrárias. Uma leve brisa deixou seus cabelos esvoaçantes assim que ela passou por mim e eu pude finalmente sentir seu perfume.
Não pude evitar e acabei olhando para trás na intenção de ver aonde a menina ia. Ela seguiu por um caminho que dava na praça da faculdade, lugar onde a conheci. Maria Alice sentou-se no mesmo lugar de antes e tornou a escutar seu mp3 player. Decidi sentar-me a alguns metros do lado dela.
Assim que me aproximei, ela virou para o outro lado. Pareceu não estar nem um pouco interessada em mim e, ao contrário do que se possa imaginar, meu interesse por ela, com isso, só cresceu. Ela parecia tão altiva, distante, antipática, que me comoveu. Identifiquei-me com aquela figura tão profundamente trancada dentro de si mesma.
Eu só tinha coragem de admirá-la. Por vezes, tentei me aproximar sem proferir palavra alguma pois sabia que tal atitude surtiria algum efeito em nós dois, mesmo que o tal não fosse verbal. Aquilo era algo intimista, algo maior do que as palavras. Aquilo era algo espiritual, químico, físico, abstrato. Eu sentia que ela sentia, mas não sabia se ela sentia que eu sentia.
Eu nunca dirigi-lhe a palavra. Pelo contrário... dirigi-lhe coisas muito mais interessantes , intensas e duradouras. Talvez Maria Alice seja minha alma gêmea, a mulher da minha vida.
Vez ou outra acordo assombrado pelos olhos dela e inebriado por seu perfume. Ela aparece nos meus sonhos constantemente. Maria Alice já estava nos meus sonhos antes mesmo de eu conhecê-la e nem sabe disso.
Maria Alice, Maria Alice... eu queria realmente que ela se chamasse Maria Alice, mas não sei seu nome. Só queria poder chamá-la de alguma coisa e essa coisa se tornou Maria Alice.

P.S.: E eu sei que nos encontraremos num futuro muito próximo.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Escrevo sonhos, poesia. Tenho o mundo inteiro dentro de mim, e não qualquer mundo: o meu própio. As palavras vêm quando querem ir embora, vêm numa incrível jornada de sobrevivência. As palavras são frias quando sós. Passam a ser acolhedoras e a fazer algum sentido quando se tem algo dentro do peito, ardendo. O indescritível, o inenarrável, sempre estiveram a seu lado... o paradoxo também. Não há nada mais reconfortante do que poder construir pontes flutuantes de letras, sílabas, fonemas. Eu mesma.
Sinto, sinto tanto. Sinto tudo aquilo que não poderia sentir ou que tenho dúvidas que sinto. Sinto intensamente. Só na mente. Ou no papel.
Conto sonhos, desejos, segredos. A inspiração vem de qualquer coisa e do nada. Nada existencial. Niilismo.
Será tudo da cabeça, da alma? Será tudo do papel?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Coração

Me explica como é isso. Me diz o que isso significa. Sentir saudades de um abraço, de um beijo, de uma carícia que nunca chegaram a mim. Sentir falta das nuvens macias, dos passos ensolarados, do céu colorido.
Posso sentir o gosto da música, do arco-íris de sensações nunca sentidas por mim. Posso sentir o toque leve e macio da brisa que veio acariciar meu rosto, levar embora uma lágrima. Posso ver milhares de cores saltitando por todos os lados. Posso até sentir o batimento do meu coração. Do seu coração.
Experimento um estado de celestial deformação da realidade. Marcas sem passado, sem presente. Previsão de um futuro que não está por vir. Mas não me importo.
Deixe-me dormir um sono profundo, cálido, lúdico. Sossegado, agitado, morno. Livre, belo, doce.
Cantigas podem me assombrar, pássaros me inquietar e moços me assaltar. Entretanto, tudo isso sempre tem um fim. Termino nos braços da utopia, prisão libertadora; no colo do sonho, cheio de nuvens, cheio de amores; sentindo o palpitar dos anjos por mim, a doçura e a calamidade do embate entre dois corações.
Sou assim. Uma folha que delicadamente é levada pelo vento no início da madrugada, quando o tempo está tão frio e impiedoso que deixa a alma gelada... uma névoa que ainda não teve fim.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Letras e amantes

Cartas de amor não são
mais que palavras jogadas
ao vento num momento de
insensatez, de insanidade.

São escritas por peitos doloridos,
corpos enfurecidos, sangues envenenados.
Podem levar à loucura e são mórbidos
e selvagens tais documentos sagrados,
escritos à sangue dos amantes, condenados.

O mel que escorre dos seus lábios é feitiço
macabro, prazer tortuoso.

O belo e ardente gozo esconde
dentro uma imensa sofreguidão,
permanente cicatriz. Não se deixe
enganar pelo verniz, pelo retrato.

Não seja chantageado
pelo momento, desejo.
Olha para dentro de ti mesmo
e perceba que encara a face
cruel da paixão...

Pois só se escreve
cartas de amor quando
se sente a euforia
dilacerante e não o
próprio coração.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Retalhos

Agora já foi, já passou. Os calafrios, o olhar esperançoso, o desespero. O que parecia interminável terminou, me deixou. O que parecia infinito teve sim seu fim. Não há mais o que se dizer nem o que se lamentar entre nós. Não há mais a distância, a dor da ausência. Não há mais encantamento, doçura... Você me deixou por completo e estou completa. Nenhuma parte de mim foi embora contigo, tenho orgulho de dizer. Estou melhor que antes, melhor do que na sua presença ou na sua falta. Recolhi meus pedaços e os juntei de um modo diferente, mais forte. Chorei e meu sofrimento, quem diria, foi uma inesgotável fonte de inspiração. Posso dizer que me aproveitei de você, da situação.
Agora há um nada entre nós. Sinto um nada imenso por você, um nada que me dá prazer. Agora não há amor ou ódio, rancor ou resignação. Mas talvez haja o agradecimento. Agradecimento por ter me proporcionado situações e emoções que nunca tinha sentido antes. Agradecimento por me ter me tornado mais forte, mais inteira. Agradecimento por ter ido embora (covenhamos, não teria dado certo). Agradecimento por me ajudar a reduzir tudo aquilo a meras lembranças distantes.
Foi bom enquanto durou.
Obrigada.