sábado, 29 de janeiro de 2011

Escrevo sonhos, poesia. Tenho o mundo inteiro dentro de mim, e não qualquer mundo: o meu própio. As palavras vêm quando querem ir embora, vêm numa incrível jornada de sobrevivência. As palavras são frias quando sós. Passam a ser acolhedoras e a fazer algum sentido quando se tem algo dentro do peito, ardendo. O indescritível, o inenarrável, sempre estiveram a seu lado... o paradoxo também. Não há nada mais reconfortante do que poder construir pontes flutuantes de letras, sílabas, fonemas. Eu mesma.
Sinto, sinto tanto. Sinto tudo aquilo que não poderia sentir ou que tenho dúvidas que sinto. Sinto intensamente. Só na mente. Ou no papel.
Conto sonhos, desejos, segredos. A inspiração vem de qualquer coisa e do nada. Nada existencial. Niilismo.
Será tudo da cabeça, da alma? Será tudo do papel?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Coração

Me explica como é isso. Me diz o que isso significa. Sentir saudades de um abraço, de um beijo, de uma carícia que nunca chegaram a mim. Sentir falta das nuvens macias, dos passos ensolarados, do céu colorido.
Posso sentir o gosto da música, do arco-íris de sensações nunca sentidas por mim. Posso sentir o toque leve e macio da brisa que veio acariciar meu rosto, levar embora uma lágrima. Posso ver milhares de cores saltitando por todos os lados. Posso até sentir o batimento do meu coração. Do seu coração.
Experimento um estado de celestial deformação da realidade. Marcas sem passado, sem presente. Previsão de um futuro que não está por vir. Mas não me importo.
Deixe-me dormir um sono profundo, cálido, lúdico. Sossegado, agitado, morno. Livre, belo, doce.
Cantigas podem me assombrar, pássaros me inquietar e moços me assaltar. Entretanto, tudo isso sempre tem um fim. Termino nos braços da utopia, prisão libertadora; no colo do sonho, cheio de nuvens, cheio de amores; sentindo o palpitar dos anjos por mim, a doçura e a calamidade do embate entre dois corações.
Sou assim. Uma folha que delicadamente é levada pelo vento no início da madrugada, quando o tempo está tão frio e impiedoso que deixa a alma gelada... uma névoa que ainda não teve fim.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Letras e amantes

Cartas de amor não são
mais que palavras jogadas
ao vento num momento de
insensatez, de insanidade.

São escritas por peitos doloridos,
corpos enfurecidos, sangues envenenados.
Podem levar à loucura e são mórbidos
e selvagens tais documentos sagrados,
escritos à sangue dos amantes, condenados.

O mel que escorre dos seus lábios é feitiço
macabro, prazer tortuoso.

O belo e ardente gozo esconde
dentro uma imensa sofreguidão,
permanente cicatriz. Não se deixe
enganar pelo verniz, pelo retrato.

Não seja chantageado
pelo momento, desejo.
Olha para dentro de ti mesmo
e perceba que encara a face
cruel da paixão...

Pois só se escreve
cartas de amor quando
se sente a euforia
dilacerante e não o
próprio coração.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Retalhos

Agora já foi, já passou. Os calafrios, o olhar esperançoso, o desespero. O que parecia interminável terminou, me deixou. O que parecia infinito teve sim seu fim. Não há mais o que se dizer nem o que se lamentar entre nós. Não há mais a distância, a dor da ausência. Não há mais encantamento, doçura... Você me deixou por completo e estou completa. Nenhuma parte de mim foi embora contigo, tenho orgulho de dizer. Estou melhor que antes, melhor do que na sua presença ou na sua falta. Recolhi meus pedaços e os juntei de um modo diferente, mais forte. Chorei e meu sofrimento, quem diria, foi uma inesgotável fonte de inspiração. Posso dizer que me aproveitei de você, da situação.
Agora há um nada entre nós. Sinto um nada imenso por você, um nada que me dá prazer. Agora não há amor ou ódio, rancor ou resignação. Mas talvez haja o agradecimento. Agradecimento por ter me proporcionado situações e emoções que nunca tinha sentido antes. Agradecimento por me ter me tornado mais forte, mais inteira. Agradecimento por ter ido embora (covenhamos, não teria dado certo). Agradecimento por me ajudar a reduzir tudo aquilo a meras lembranças distantes.
Foi bom enquanto durou.
Obrigada.