terça-feira, 28 de maio de 2013

Ensaio para S.

O ônibus está cheio. Caminho pelo corredor tentando me desvencilhar dos outros, sentindo minha pele úmida do suor, respirando um ar abafado. É aí que um homem se levanta para seguir seu trajeto, e o assento vazio está próximo de mim o suficiente para que eu possa me sentar. Sinto alívio. Olho para a direita. Percebo que o passageiro ao meu lado é um garoto jovem. Ele não deve ter lá uma idade muito diferente da sua; arrisco uns 25 anos, apesar de nunca ter visto seu rosto. Ele não deve ter uma altura muito diferente da sua; dá pra perceber que é um pouco mais alto que eu, como você. E de repente, assim, do nada, me pego pensando em você, como acontece com frequência. E o ônibus passa por asfaltos tortuosos e saculeja, fazendo nossos ombros se tocarem, coreografando essa dança que desperta meu inquieto pensamento. Já que não te tenho por perto, gosto de imaginar que eles são você. Pego-me olhando para o seu ombro e desejando me recostar neles, enquanto me abraça e me envolve e eu descanso meu rosto no seu pescoço, sentindo sua pele e seu perfume e seu calor e me afogo e. Ah, sou tola por cair nessas abstrações, bem sei, mas é que. Sei lá, só sei que te quero. E suas mãos se movem e acabam chamando minha atenção. Não sei como são as suas, mas desejo senti-las viajando pelo meu corpo, tocando cada centímetro de mim enquanto eu estremeço e você me beija e eu estremeço de novo e mais. Sim, você me beija. Quero seus lábios sobre e sob os meus, quero apertar meus dentes contra seus lábios e puxá-los para mim porque te desejo. Quero sentir seu hálito, sua respiração ofegar contra meu rosto, nossas línguas se tocarem num uníssono de prazer.  Mas a verdade é que ele não é você. A verdade é que você está muito longe, a milhares de quilômetros de mim. Mas não tão distante que eu não possa te sentir aqui, perto, pelo contrário. Te sinto tão perto que você parece estar dentro de mim...

quinta-feira, 21 de março de 2013

confissões da madrugada

    Às vezes, penso, ‘que se dane’, mas aí eu lembro que não, não pode se danar, e então meus olhos se enchem de lágrimas. A gente não pode se danar porque eu não quero que a gente se dane, porque eu sinto algo enorme que me diz que preciso de nós. Mas é que isso de qualquer coisa me fazer lembrar de você e de mim... isso me deixa com os nervos à flor da pele. Eu odeio isso porque, sabe, surgem tantas perguntas. E não sei responder a nenhuma delas. Então percebo que não posso controlar nada. Não posso controlar a gente. Não sei o que vai acontecer amanhã ou depois ou depois do depois com a gente, com a nossa história. Daí me lembro de quando dizemos ‘quero ficar com você pra sempre’, ‘vamos morar juntos’, ‘vamos ter cachorros’, e percebo que não dá pra ter certeza de nada. É desesperador. Onde estaremos daqui a alguns anos? Estaremos morando juntos, teremos cachorros, seremos eu e você pra sempre? Será que o ‘nós’ ainda vai existir? Não quero pensar nisso, não quero pensar em coisa alguma, mas minha mente insiste em se agarrar aos mais inúteis dos pensamentos, justamente àqueles que me inquietam. Então eu choro. Choro. Choro. E choro mais um pouco. Mas ‘que se dane’ tudo, penso, e a torrente de lágrimas deixa de cair. Só que depois de um tempo volta tudo de novo.

quarta-feira, 20 de março de 2013

soma oposição



Dúvidas,
Bem-vindas.
Ma(i)s insegurança
É ruína.