sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Começo, meio e sem-fim


Eu não sei. Não sei o que se passa pela minha mente neste momento. Não sei o que aconteceu a mim mesma. Alguma coisa deteriorou a minha alma tão profundamente, que já nem consigo construir meus castelos de palavras, de sonhos.
Me dê a sua mão, me leve consigo. Estou perdida em um canto dentro de mim. Por favor, me encontre. Me encontre para que possamos nos perder juntos em um lugar bem longe. Me tire daqui; ofereça-me seu cálice de palavras pintadas de ouro que têm gosto de pedaços do paraíso.
Quero me afastar de mim. Quero me aproximar de você para me encontrar novamente. Quero enlouquecer para recobrar a sanidade, pois não estou sã e muito menos louca. Quero sofrer pelos motivos corretos e ser feliz pelos caminhos mais duvidosos.
Deitada em minha cama, mal posso esconder meus sintomas. Sinto-me fraca, e fraca de alma. Não tenho mais a vitalidade de um coração jovem, por mais que o seja. Sinto-me enterrada num lugar muito mais profundo que meu corpo; sinto-me afundar lentamente por entre os devaneios líricos que me submeto todos os dias.
Meus olhos estão se fechando. Me refiro aos olhos do coração. Não mais enxergo as belezas do mundo ou a simplicidade de gestos de carinho, cotidianos. Preciso de carinho. Faça-me ver a pureza e a magia de um abraço, de um beijo. Preciso de você. Aqui. Agora.
Não me abandone, nem que eu te suplique. Não deixe de me entender, mesmo que minhas palavras e meu jeito sejam turvos. Não se deixe entrar no meu jogo. Não sinta-se envolvido pela minha aparente frieza. Eu sou mais que isso, eu juro, mas ainda não consigo demonstrar. Entenda que eu, mais do que ninguém, sou enganada por mim mesma. Caio nas minhas próprias armadilhas e deixo-me seduzir pela contraditória facilidade da estrada da solidão.
Eu sei que ainda posso ser salva. Eu sei que posso sair daqui. Eu sei que ainda tenho conserto. Eu sei que posso ser desmontada e reconstruída. Só não sei por onde começar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Pobre Sofia


Sofia deitou-se em sua cama e afogou seu rosto nos lençóis, no travesseiro. Sentiu o tecido macio roçar em sua tez e fechou os olhos. Apurou seu olfato e respirou fundo; inspirou tão profundamente que pareceu preencher o vazio em seu peito com a lembrança daquele abraço. O abraço que, há alguns dias, a havia deixado sem palavras, confusa.
Primeiramente, ele estendeu uma das mãos para acariciar o seu rosto. Sofia ficou desconcertada com o carinho e o calor e a maciez proveniente dele, mas conseguiu não fechar os olhos. Um sacrifício imenso, mas que representou sua relutância em admitir o efeito que o gesto lhe causou. Ela olhou no fundo de seus olhos, tímida, e ele a puxou para si, a envolvendo com os braços. As mãos dele fizeram uma pequena pressão sobre as costas de Sofia, que, dessa forma, pôde sentir seus corpos mais próximos.
Sofia acomodou sua cabeça no ombro do amigo e aspirou profundamente. Queria guardar seu perfume, pois sabia que não o veria em breve. Ela respirou ele próprio e, tendo a vantagem de ter seu semblante livre da visão do rapaz, fechou os olhos. Fechou os olhos para resguardar seus sentidos, unicamente, aquele abraço.
Agora, na intimidade de seu quarto e sob a segurança do cobertor, se perguntava o que havia, de fato, acontecido. Ela não imaginava ter aquele tipo de sensação ao ficar tão próxima dele. Poderia até ter cogitado essa hipótese, mas negou para si mesma tantas vezes que a esqueceu.
Uma série de sentimentos invadiu seu peito e mente. Ela queria saber o que foi, o que era e o que significava aquilo que estava sentindo. Foi algo tão profundo que varreu todo o histórico de preocupações e pensamentos da cabeça da garota. Pareciam estar ausentes os males do universo.
Ela estava profundamente apaixonada no momento. Mas se perguntava o que aconteceria depois, afinal, esta onda de emoções pode ter sido fruto da carência que estava sofrendo há algum tempo. Sofia parou e se perguntou se o queria. Se o queria ao lado dela, podendo ter seus carinhos à disposição, seu calor a envolvendo, sua boca a dissolvendo. Não obteve resposta alguma. Ela não sabia. Simples assim.
A única coisa que sabia era que alguma coisa a preencheu depois daquele abraço. Algum vazio dentro dela mesma deixou de existir ao ceder espaço aquele gesto carinhoso e, talvez, demasiadamente romântico.
Sofia era um enigma para si mesma e queria que alguém o desvendasse. Ela suplicava por isso, mas era uma pessoa muito difícil de entender. Ela estava de joelhos, gritando e implorando por alguém que pudesse decifrá-la. Ela estava suplicando por carinho, por amor. Ela estava, definitivamente, apaixonada por ele e, por mais que ele fosse tão diferente do cara que tanto idealizou em seus sonhos, o queria sim. Mas não sabia. Sofia não sabia de nada.
Pobre Sofia.