quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ele olhou-me nos olhos. Diferentemente dos outros, ele não simplesmente me viu. Ele me enxergou, me notou. Foi durante alguns segundos apenas. Após esse momento memorável, não pude mais narrar. Baixei os olhos. Talvez ele tenha baixado os dele igualmente. Não pude ver. Minha visão foi preenchida pelo asfalto. Pela cor fria do asfalto. Meu encabulamento foi maior que meu desejo de sustentar aquele olhar. Olhar sincero, caloroso. Olhar meigo, cativante.
Provavelmente, nunca mais nos encontraremos. O momento foi e passou – mas não por completo. Permanece em minha mente, nos meus pensamentos. Está dentro de mim. Teve-me como protagonista. Ficará para sempre na minha história.
Não nos conhecemos. Não nos conheceremos. O encanto está presente na circunstância. Na ilusão. Nas fantasias. No desejo de desvendar o outro através de um olhar, apenas. E talvez a maior gratificação seja essa: não poder desfazer o enigma. Mergulhar num nebuloso filme em que o outro é aquilo que sempre se desejou. E por mais que não o seja, o será eternamente após o encontro daqueles olhares esperançosos, curiosos, sedentos.

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