O ônibus está cheio. Caminho pelo
corredor tentando me desvencilhar dos outros, sentindo minha pele úmida do
suor, respirando um ar abafado. É aí que um homem se levanta para seguir seu
trajeto, e o assento vazio está próximo de mim o suficiente para que eu possa
me sentar. Sinto alívio. Olho para a direita. Percebo que o passageiro ao meu
lado é um garoto jovem. Ele não deve ter lá uma idade muito diferente da sua;
arrisco uns 25 anos, apesar de nunca ter visto seu rosto. Ele não deve ter uma
altura muito diferente da sua; dá pra perceber que é um pouco mais alto que eu,
como você. E de repente, assim, do nada, me pego pensando em você, como
acontece com frequência. E o ônibus passa por asfaltos tortuosos e saculeja,
fazendo nossos ombros se tocarem, coreografando essa dança que desperta meu
inquieto pensamento. Já que não te tenho por perto, gosto de imaginar que eles
são você. Pego-me olhando para o seu ombro e desejando me recostar neles,
enquanto me abraça e me envolve e eu descanso meu rosto no seu pescoço,
sentindo sua pele e seu perfume e seu calor e me afogo e. Ah, sou tola por cair
nessas abstrações, bem sei, mas é que. Sei lá, só sei que te quero. E suas mãos
se movem e acabam chamando minha atenção. Não sei como são as suas, mas desejo
senti-las viajando pelo meu corpo, tocando cada centímetro de mim enquanto eu
estremeço e você me beija e eu estremeço de novo e mais. Sim, você me beija.
Quero seus lábios sobre e sob os meus, quero apertar meus dentes contra seus
lábios e puxá-los para mim porque te desejo. Quero sentir seu hálito, sua
respiração ofegar contra meu rosto, nossas línguas se tocarem num uníssono de
prazer. Mas a verdade é que ele não é
você. A verdade é que você está muito longe, a milhares de quilômetros de mim.
Mas não tão distante que eu não possa te sentir aqui, perto, pelo contrário. Te
sinto tão perto que você parece estar dentro de mim...
terça-feira, 28 de maio de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
confissões da madrugada
Às vezes, penso, ‘que se dane’, mas aí eu
lembro que não, não pode se danar, e então meus olhos se enchem de lágrimas. A
gente não pode se danar porque eu não quero que a gente se dane, porque eu
sinto algo enorme que me diz que preciso de nós. Mas é que isso de qualquer
coisa me fazer lembrar de você e de mim... isso me deixa com os nervos à flor
da pele. Eu odeio isso porque, sabe, surgem tantas perguntas. E não sei
responder a nenhuma delas. Então percebo que não posso controlar nada. Não
posso controlar a gente. Não sei o que vai acontecer amanhã ou depois ou depois
do depois com a gente, com a nossa história. Daí me lembro de quando dizemos
‘quero ficar com você pra sempre’, ‘vamos morar juntos’, ‘vamos ter cachorros’,
e percebo que não dá pra ter certeza de nada. É desesperador. Onde estaremos
daqui a alguns anos? Estaremos morando juntos, teremos cachorros, seremos eu e
você pra sempre? Será que o ‘nós’ ainda vai existir? Não quero pensar nisso,
não quero pensar em coisa alguma, mas minha mente insiste em se agarrar aos
mais inúteis dos pensamentos, justamente àqueles que me inquietam. Então eu
choro. Choro. Choro. E choro mais um pouco. Mas ‘que se dane’ tudo, penso, e a
torrente de lágrimas deixa de cair. Só que depois de um tempo volta tudo de
novo.
quarta-feira, 20 de março de 2013
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