quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carta para Amélie Poulain


Como me encantaria ter prazeres doces, puros e incomuns - quando deveriam ser corriqueiros - como os seus. Na verdade, é como diz Werther: "...gostaria de ser um besourinho para encontrar neste oceano de perfumes a fonte de todo o meu alimento."
Como gostaria de ter uma casa tão colorida quanto a sua; talvez em função da falta de cor que tenho por dentro.
Como gostaria de ter um certo Sr. Dufayel para me aconselhar e me fazer descobrir que não tenho ossos de vidro; assim perderia todo o medo e me jogaria de vez desse penhasco, que tem lá embaixo essa coisa que chamam de vida. Por enquanto estou aqui em cima, minha cara. Longe de todos, de tudo.
Como gostaria de ter o meu próprio Nino, e que ele me fizesse andar de moto pelas ruas de Paris e me falasse lindas palavras em francês ao pé do ouvido. Se bem que essa última parte é querer demais: bastava ser meu como ele só era seu, amar-me como só ele te amava e soubesse me deixar feliz como só ele sabia te alegrar. Ma petit, como sou sozinha, não é? Por favor, não tenha pena.
Como gostaria de encontrar um objeto tão simples e velho, mas que me desse algum motivo para continuar a vida, que me desse um objetivo, uma razão. Perspectiva.
Agora, não fique brava comigo, mas como gostaria de parar de ter todos aqueles pensamentos de inferioridade que você tinha. E parar com toda aquela imaginação fértil também. E também com todo aquele modo tímido de dizer as palavras e de renunciar a vida.
Como gostaria de ter sido alguém no mundo como você foi e ainda é, de ter significado tanto quanto eu sei que você significa para esse milhar de garotas esquisitas, como eu - e como você - que se comoveram e se identificaram tanto com a sua história.
Ah, droga. Mas, admito: acima de tudo, talvez o que eu mais queira é ser justamente apenas o personagem de um filme de grandes sutileza, doçura, trilha sonora e fotografia como o seu; assim eu não existiria. Perdoe-me por palavras tão depressivas. Mas é que existir dói demais e é complicado demais; e viver consegue ser bem pior, justamente por isso.
Não peço que me entenda. Apenas me aceite.
Se não quiser ser minha amiga, compreenderei.

Tenha uma doce vida,
Bianca.

2 comentários:

Escultora de delírios disse...

Lindas palavras, Bianca.

Escultora de delírios disse...

"Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme das coisas simples da vida..."