sábado, 30 de janeiro de 2010
Soul
Eu? Sou aquela que se perde na noite entre tantas ilusões. Sou a brisa que vaga pelos lugares esquecidos ou nunca desvendados. Sou a sombra de alguém que deveria ser e não é. Sou o coração que esqueceu de se recompor. Sou a história que nunca ninguém contou. Sou a canção que nunca foi composta. Sou o poema sem rimas e cheio de sentimentalismo que ninguém pôde escrever. Sou o céu estrelado que dificilmente alguém vê. Sou o livro de páginas amareladas deixado de lado no fundo da biblioteca. Sou a mentira mascarada pela coisa certa. Sou o vulcão que tem medo de explodir. Sou a mulher que tem medo de não existir. Sou um pedaço do caminho errado. Sou o castelo assombrado. Sou a vida que não foi. Sou o mundo que tenho dentro. Sou o amor que nunca vingou. Sou o sonho de alguém que nunca amou – e nem amará. Sou a chuva que cai e molha o seu rosto. Sou o que sou, embora, às vezes, seja totalmente o oposto.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Só
A solidão é uma coisa compartilhada. Por mais que não se veja, ao redor, os que sofrem desta mesma sintonia. O que se pode afirmar a partir dessas considerações é que todos os abandonados pelo mundo nesse universo próprio e solitário gostariam de encontrar pelo caminho aqueles acometidos pelos mesmos erros, ou quem sabe, acertos.
Solidão pode ser estado ou permanência. Quando é que se sabe que se passa de um nível a outro? Deve ser quando além de você não receber mais telefonemas, não quiser recebê-los, porque você, simplesmente, não conhece alguém que possa te ligar ou já esqueceu da sensação de ser lembrado.
Os solitários são desconectados. Alguma coisa se rompeu no seu caminho de comunicação com o resto da sociedade. Muitos deles preferem fazer proveito de sua própria situação. Outros muitos sofrem com a mesma.
Quando será que dão início ao ciclo? Deve ser a partir do momento certo em que são concebidos na barriga de sua mãe, onde tudo parece tão calmo e tranqüilo. A partir do nascimento tudo fica mais confuso. Aquela sensação uterina parece ser demasiado prazerosa para ser desperdiçada. Afinal, quando se está abandonado à própria sorte, ninguém se mete em seu caminho, não é preciso lidar com as divergências do outro ou aceitar seus defeitos. Só é necessário aprender a suportar a si mesmo, na sua solidão.
Ao som de Cat Power e sua “Fool”.
Texto tosco e sem nexo.
Solidão pode ser estado ou permanência. Quando é que se sabe que se passa de um nível a outro? Deve ser quando além de você não receber mais telefonemas, não quiser recebê-los, porque você, simplesmente, não conhece alguém que possa te ligar ou já esqueceu da sensação de ser lembrado.
Os solitários são desconectados. Alguma coisa se rompeu no seu caminho de comunicação com o resto da sociedade. Muitos deles preferem fazer proveito de sua própria situação. Outros muitos sofrem com a mesma.
Quando será que dão início ao ciclo? Deve ser a partir do momento certo em que são concebidos na barriga de sua mãe, onde tudo parece tão calmo e tranqüilo. A partir do nascimento tudo fica mais confuso. Aquela sensação uterina parece ser demasiado prazerosa para ser desperdiçada. Afinal, quando se está abandonado à própria sorte, ninguém se mete em seu caminho, não é preciso lidar com as divergências do outro ou aceitar seus defeitos. Só é necessário aprender a suportar a si mesmo, na sua solidão.
Ao som de Cat Power e sua “Fool”.
Texto tosco e sem nexo.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Hein?!
Eu sinto milhares de coisas ao mesmo tempo, e todas tão intensas, que já nem sei se posso defini-las. Já misturo todos os sentimentos e não percebo mais os que me trazem felicidade ou o oposto.
Na verdade, sei muito bem, mas não quero saber, tenho medo de saber e, mais ainda, de admitir. Sei que minha vida é uma desgraça e um erro fatal da natureza, mas sinto que gosto de sofrer. Uma vida vazia não vale nada, enquanto uma vida que seja recheada, ainda que de sofrimentos e lamúrias, dá idéias pra nossa cabeça, fortalece o raciocínio, embora enfraqueça o coração.
Sei que os milhares de personagens que invento não são nada mais, nada menos, que eu mesma. Mas é duro aceitar a hipótese, e pior ainda, é mostrar aos outros o que você é e o que sente, dando a cara à tapa, admitindo que o que te motivou a escrever aquilo foram seus próprios sentimentos, que a sua obra está transbordando de tanto você mesmo.
Se eu quero mudar? É claro. Não sei por onde começar. Não sou muito boa fazendo amigos, pelo contrário: sou tímida e anti-social. As mulheres me odeiam, mas os homens muito mais. Sou uma figura perdida pelo universo, sem ter um álbum em que ser colada, sem ter uma vida onde possa ser encaixada. A única coisa que posso fazer é isso aqui. Escrever sem pretensões de ser notada, para desabafar, embora com medo, pois como diz Clarice Lispector: “...tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”
PS: Não é pra entender.
PS2: Obrigada, Deus, por me permitir escrever. Já estou bem melhor depois disso.
PS3: Agradeço também aos que lerem e comentarem.
Na verdade, sei muito bem, mas não quero saber, tenho medo de saber e, mais ainda, de admitir. Sei que minha vida é uma desgraça e um erro fatal da natureza, mas sinto que gosto de sofrer. Uma vida vazia não vale nada, enquanto uma vida que seja recheada, ainda que de sofrimentos e lamúrias, dá idéias pra nossa cabeça, fortalece o raciocínio, embora enfraqueça o coração.
Sei que os milhares de personagens que invento não são nada mais, nada menos, que eu mesma. Mas é duro aceitar a hipótese, e pior ainda, é mostrar aos outros o que você é e o que sente, dando a cara à tapa, admitindo que o que te motivou a escrever aquilo foram seus próprios sentimentos, que a sua obra está transbordando de tanto você mesmo.
Se eu quero mudar? É claro. Não sei por onde começar. Não sou muito boa fazendo amigos, pelo contrário: sou tímida e anti-social. As mulheres me odeiam, mas os homens muito mais. Sou uma figura perdida pelo universo, sem ter um álbum em que ser colada, sem ter uma vida onde possa ser encaixada. A única coisa que posso fazer é isso aqui. Escrever sem pretensões de ser notada, para desabafar, embora com medo, pois como diz Clarice Lispector: “...tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”
PS: Não é pra entender.
PS2: Obrigada, Deus, por me permitir escrever. Já estou bem melhor depois disso.
PS3: Agradeço também aos que lerem e comentarem.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
C'est la vie
Às vezes, sinto por ser aquilo que nunca fui e nem serei. Entristeço-me por perder as palavras quando as mesmas chegam à boca. Desespero-me por não tornar meus pensamentos em atos. Fujo por perceber que serei contrariada. Fico por saber que não haverá pedras no caminho. Minto por não querer revelar meus verdadeiros sentimentos. Choro por querer engolir a própria tristeza. Sorrio por desejar esconder o que se encontra no peito. Durmo por não gostar de encarar o vácuo do dia. Escondo-me por vontade de enganar o destino. Escuto por ter coisas demais ou de menos a dizer. Iludo-me por não querer acreditar num mundo vão. Toco por ser motivo de libertação e paixão. Escrevo por ser caso de desabafo. Estranho-me por ser alheia à multidão. Gosto por não ter quem amar. Crio por não ter onde encaixar. Desmotivo-me por não saber viver.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
10 coisas sobre a minha perturbada identidade
1. Já fiquei sem cortar o cabelo durante um ano, em função do assédio do cara que lavou minhas madeixas.
2. Tenho medo de me apaixonar e, ao mesmo tempo, vontade.
3. Tenho 17 anos e me sinto muito mais jovem.
4. Vivo num mundo próprio, de onde tiro inspiração para os meus textos que não são tristes.
5. Nunca me apaixonei, apesar de já ter tido diversos amores platônicos.
6. Tenho a sensação de ter vivido coisas que ainda não vivi.
7. Tenho medo do escuro e de “espíritos”.
8. Sinto-me carente.
9. Já fiz coleção de insetos.
10. Tomo remédios psiquiátricos, mas já estou parando.
2. Tenho medo de me apaixonar e, ao mesmo tempo, vontade.
3. Tenho 17 anos e me sinto muito mais jovem.
4. Vivo num mundo próprio, de onde tiro inspiração para os meus textos que não são tristes.
5. Nunca me apaixonei, apesar de já ter tido diversos amores platônicos.
6. Tenho a sensação de ter vivido coisas que ainda não vivi.
7. Tenho medo do escuro e de “espíritos”.
8. Sinto-me carente.
9. Já fiz coleção de insetos.
10. Tomo remédios psiquiátricos, mas já estou parando.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Momento I
A alvorada se aproxima e
minha mente se angustia
com a possibilidade de
um novo dia.
Meu corpo está frio e
minha alma gelada;
como num cárcere
sinto-me aprisionada.
Apesar disso, a
liberdade do pensamento
aguça a esperança e traz
o esquecimento da ferida.
Desejaria libertar-me e
encontrar-te, senão fossem
meus medos, minha pele,
minha estrada.
minha mente se angustia
com a possibilidade de
um novo dia.
Meu corpo está frio e
minha alma gelada;
como num cárcere
sinto-me aprisionada.
Apesar disso, a
liberdade do pensamento
aguça a esperança e traz
o esquecimento da ferida.
Desejaria libertar-me e
encontrar-te, senão fossem
meus medos, minha pele,
minha estrada.
besteirinhas
eu sou uma estrela que de súbito aparece
num céu onde não há mais estrelas.
eu sou uma flor que brota na terra não fértil.
eu sou uma canção num mundo em que não há mais música.
eu sou uma estrada em que não há fronteiras.
eu sou namorada sem ter namorado.
eu sou amante em um mundo sem amor.
eu sou um grito abafado, um sorriso calado
um olhar inocente, um pensamento incoerente
uma menina sem rosa e talvez até sem cor.
-
Eu sei que a vida é muito mais do que eu vejo, muito mais do que eu sinto ou tenho. Eu quero mesmo é sair por aí, desfrutar de toda essa beleza que me é disponível e que eu simplesmente não vou buscar, talvez por medo. Eu quero é me sentir livre de toda e qualquer obrigação, responsabilidade, pressão ou comprometimento que a vida que eu vivo exige. Eu tenho uma alma maior, que quer se expandir, que quer sentir, que quer ser livre e, ao mesmo tempo, pertencer a algum lugar. Eu quero ser mais que feliz; eu quero ser plena. Não quero ser amada, não quero ser aceita; quero apenas ser respeitada.
num céu onde não há mais estrelas.
eu sou uma flor que brota na terra não fértil.
eu sou uma canção num mundo em que não há mais música.
eu sou uma estrada em que não há fronteiras.
eu sou namorada sem ter namorado.
eu sou amante em um mundo sem amor.
eu sou um grito abafado, um sorriso calado
um olhar inocente, um pensamento incoerente
uma menina sem rosa e talvez até sem cor.
-
Eu sei que a vida é muito mais do que eu vejo, muito mais do que eu sinto ou tenho. Eu quero mesmo é sair por aí, desfrutar de toda essa beleza que me é disponível e que eu simplesmente não vou buscar, talvez por medo. Eu quero é me sentir livre de toda e qualquer obrigação, responsabilidade, pressão ou comprometimento que a vida que eu vivo exige. Eu tenho uma alma maior, que quer se expandir, que quer sentir, que quer ser livre e, ao mesmo tempo, pertencer a algum lugar. Eu quero ser mais que feliz; eu quero ser plena. Não quero ser amada, não quero ser aceita; quero apenas ser respeitada.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Mia
Mia passava horas em sua cama, deitada, de bruços. Não dormia, mas por alguns momentos sentia-se ausente do mundo, imersa nos próprios devaneios, ilusões, pensamentos.
Ela esperava, desde muito tempo, por alguém que não conhecia. Nada sabia sobre a cor dos seus olhos, a graça de seu caráter, o encanto do seu sorriso ou esplendor de sua companhia. Não o via, nem ao menos sabia algo concreto sobre sua existência.
Tinha tanta certeza de que estava em algum lugar, por aí, perdido pelo universo, privado da beleza dos momentos que teriam juntos, dos sentimentos que compartilhariam, da vida que teriam. Angustiava-a a idéia de que estava perdendo tempo, enquanto sua alma gêmea caminhava vazia pelos cantos e becos das cidades, por sentir a falta de quem a completasse, esse alguém que era ela, Mia.
Sentia-o tão perto enquanto estava ali, deitada em sua cama. Era como se ele estivesse presente, embora invisível. Podia mesmo sentir seu toque, seu cheiro, seus beijos. E isso a enlouquecia, de certa forma que Mia só queria sumir do mundo e não mais enfrentar sua vida vazia.
Ela só desejava entrar num quarto escuro e permanecer no chão até que o universo não se lembrasse da sua existência. Queria dormir por todo o sempre, pois nos seus sonhos sabia que o encontraria.
Mia sabia que sua vida não possuía mais sentido, se é que algum dia já teve. A oportunidade de encontrá-lo seria a mesma de ficar frente-a-frente com seu futuro, anseios, desejos; seria a mesma que a preencheria.
Mia era só Mia. Uma garota qualquer, sem cor, sem nada.
Ela esperava, desde muito tempo, por alguém que não conhecia. Nada sabia sobre a cor dos seus olhos, a graça de seu caráter, o encanto do seu sorriso ou esplendor de sua companhia. Não o via, nem ao menos sabia algo concreto sobre sua existência.
Tinha tanta certeza de que estava em algum lugar, por aí, perdido pelo universo, privado da beleza dos momentos que teriam juntos, dos sentimentos que compartilhariam, da vida que teriam. Angustiava-a a idéia de que estava perdendo tempo, enquanto sua alma gêmea caminhava vazia pelos cantos e becos das cidades, por sentir a falta de quem a completasse, esse alguém que era ela, Mia.
Sentia-o tão perto enquanto estava ali, deitada em sua cama. Era como se ele estivesse presente, embora invisível. Podia mesmo sentir seu toque, seu cheiro, seus beijos. E isso a enlouquecia, de certa forma que Mia só queria sumir do mundo e não mais enfrentar sua vida vazia.
Ela só desejava entrar num quarto escuro e permanecer no chão até que o universo não se lembrasse da sua existência. Queria dormir por todo o sempre, pois nos seus sonhos sabia que o encontraria.
Mia sabia que sua vida não possuía mais sentido, se é que algum dia já teve. A oportunidade de encontrá-lo seria a mesma de ficar frente-a-frente com seu futuro, anseios, desejos; seria a mesma que a preencheria.
Mia era só Mia. Uma garota qualquer, sem cor, sem nada.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Timidez
Ela estava lá, sentada numa das muitas muretas cor-de-asfalto daquele lugar. Parecia ter brincado com os dedos por horas. No início, o coração saltitava, mas agora estava calmo, embora sentisse pontadas de angústia.
Decidiu levantar a vista. Viu-os por todos os cantos, aqueles meninos e meninas cochichando, conversando, correndo. Desejou estar lá, se mover, mas seu corpo estava enterrado naquele ar ofegante, sufocante das pessoas à sua volta. Desejou ir embora, mais do que tudo.
Ela estava tão sozinha, tão triste. Mas parecia que ninguém notava sua ausência ou sua presença; parecia que já havia deixado de ser uma figurante do mundo para fazer parte do vento que transportava todos aqueles sons de alegrias e odores misteriosos da felicidade alheia.
Ela chegava a preferir morrer a viver assim. Mas o que não percebia era que morria em vida a cada passo que dava, a cada riso que escutava, a cada beijo ou abraço que presenciava. E morria de uma dor intensa que aqueles que estavam ao redor jamais sentiriam e nunca seriam capazes de descrever: eram felizes demais para isso.
E ela se deixava enterrar cada vez mais naquele poço de lamúrias e angústias. Passava a deixar de desejar tudo o que antes queria, pois no momento sua única necessidade era uma anestesia para acabar com as dores do próprio mundo.
Decidiu levantar a vista. Viu-os por todos os cantos, aqueles meninos e meninas cochichando, conversando, correndo. Desejou estar lá, se mover, mas seu corpo estava enterrado naquele ar ofegante, sufocante das pessoas à sua volta. Desejou ir embora, mais do que tudo.
Ela estava tão sozinha, tão triste. Mas parecia que ninguém notava sua ausência ou sua presença; parecia que já havia deixado de ser uma figurante do mundo para fazer parte do vento que transportava todos aqueles sons de alegrias e odores misteriosos da felicidade alheia.
Ela chegava a preferir morrer a viver assim. Mas o que não percebia era que morria em vida a cada passo que dava, a cada riso que escutava, a cada beijo ou abraço que presenciava. E morria de uma dor intensa que aqueles que estavam ao redor jamais sentiriam e nunca seriam capazes de descrever: eram felizes demais para isso.
E ela se deixava enterrar cada vez mais naquele poço de lamúrias e angústias. Passava a deixar de desejar tudo o que antes queria, pois no momento sua única necessidade era uma anestesia para acabar com as dores do próprio mundo.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Garotas I
Ela sentou-se na cama; em seguida, caiu de costas nela. Por um momento ficou sem pensar em coisa alguma; nada passava pela sua cabeça, literalmente. Parecia que estava numa espécie de transe: olhava para o teto amarelado mas não o enxergava. Virou-se de lado. Analisou o perfume dos lençóis, do travesseiro. Ele esteve ali. Ele fora visitá-la por alguns poucos minutos. Naquele momento, já havia partido.
Deve ter ficado uns quinze minutos desse modo. Quando voltou para si, sentiu-se envergonhada por recebê-lo naquela bagunça que era seu quarto; mas não se arrependeu. De forma nenhuma.
Ela havia esperado tanto por aquela oportunidade, e passou tão rápido; nem notou os ponteiros do relógio anunciando a despedida. Foi tudo mais efêmero e lacônico do que havia imaginado, mas foi melhor ainda.
Ela queria ter sentido o seu gosto, mas não pôde. O momento era tenso demais para esse tipo de coisa. Na falta da capacidade, ficou a imaginar que sabor ele teria: morango. O que mais poderia ser? Sua pele branca como neve e rosada, seus cabelos intensamente pretos, como os olhos. Os lábios carnudos – e indiscutivelmente macios, era o que se podia dizer mesmo sem tocá-los – e vermelhos...
Imaginou o que teria acontecido se tivessem se beijado. Aquelas lábios voluptuosos pulsariam sobre os seus, o que os tornaria muito mais vermelhos e quentes. Sua saliva entraria em contato com a dela e se transformaria em um vício, um torpor indescritível. Sua língua acariciaria cada milímetro da misteriosa boca da garota e arderia numa volúpia insuportável. Suas mãos calorosas passeariam pelo seu corpo. Sua boca desceria pelo seu pescoço. Seu perfume ficaria impregnado na pele dela.
Sim, o seu perfume. Lembrou-se dele e quase desmaiou. Era a fragrância de alguma coisa doce misturada ao inconfundível cheiro do sexo masculino...
Mas essas eram só lembranças de um sonho insuportavelmente feliz.
Deve ter ficado uns quinze minutos desse modo. Quando voltou para si, sentiu-se envergonhada por recebê-lo naquela bagunça que era seu quarto; mas não se arrependeu. De forma nenhuma.
Ela havia esperado tanto por aquela oportunidade, e passou tão rápido; nem notou os ponteiros do relógio anunciando a despedida. Foi tudo mais efêmero e lacônico do que havia imaginado, mas foi melhor ainda.
Ela queria ter sentido o seu gosto, mas não pôde. O momento era tenso demais para esse tipo de coisa. Na falta da capacidade, ficou a imaginar que sabor ele teria: morango. O que mais poderia ser? Sua pele branca como neve e rosada, seus cabelos intensamente pretos, como os olhos. Os lábios carnudos – e indiscutivelmente macios, era o que se podia dizer mesmo sem tocá-los – e vermelhos...
Imaginou o que teria acontecido se tivessem se beijado. Aquelas lábios voluptuosos pulsariam sobre os seus, o que os tornaria muito mais vermelhos e quentes. Sua saliva entraria em contato com a dela e se transformaria em um vício, um torpor indescritível. Sua língua acariciaria cada milímetro da misteriosa boca da garota e arderia numa volúpia insuportável. Suas mãos calorosas passeariam pelo seu corpo. Sua boca desceria pelo seu pescoço. Seu perfume ficaria impregnado na pele dela.
Sim, o seu perfume. Lembrou-se dele e quase desmaiou. Era a fragrância de alguma coisa doce misturada ao inconfundível cheiro do sexo masculino...
Mas essas eram só lembranças de um sonho insuportavelmente feliz.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Luisa
Luisa queria falar. Mas parecia que as palavras faltavam à sua boca, desapareciam, caíam para dentro, deslizavam pela sua língua até chegar ao estômago, embora nunca fossem digeridas. Cada sílaba não pronunciada era como um vômito ao contrário e deixava cicatrizes.
Luisa permanecia inerte, parada, paralisada. O mundo que girava ao seu redor não mais importava. Os olhos tentavam se esconder, embora a cada vez que eram vislumbrados refletiam a idéia de que o procurado fora achado.
Luisa pairava no ar, flutuava. Sentia as nuvens sob os seus pés e a lua embalar a noite sobre sua cabeça.
Luisa gostava da noite assim, fria, para que pudesse se aconchegar nos próprios braços ao som de outros passos; para se enlaçar em seu corpo ao admirar outro porto.
Luisa negava, embora sorrisse e, assim, consentisse.
Luisa queria tanto, mas tanto, que não conseguia. Quando olhava para ele toda a sensação da noite anterior renascia. Não encontrava maneiras de se aproximar, nem mesmo de se desapaixonar.
Um dia, Luisa ao invés de engolir as palavras, engoliu a euforia e toda aquela chama, que decidiu: não mais transpareceria. Disse algumas palavras, percebendo que por dentro morria. Ele fora muito gentil, e ela notara que desnecessária ansiosidade sua mente fortalecia.
*Inspirada pela música “Cherry Blossom Girl” da dupla Air.
Luisa permanecia inerte, parada, paralisada. O mundo que girava ao seu redor não mais importava. Os olhos tentavam se esconder, embora a cada vez que eram vislumbrados refletiam a idéia de que o procurado fora achado.
Luisa pairava no ar, flutuava. Sentia as nuvens sob os seus pés e a lua embalar a noite sobre sua cabeça.
Luisa gostava da noite assim, fria, para que pudesse se aconchegar nos próprios braços ao som de outros passos; para se enlaçar em seu corpo ao admirar outro porto.
Luisa negava, embora sorrisse e, assim, consentisse.
Luisa queria tanto, mas tanto, que não conseguia. Quando olhava para ele toda a sensação da noite anterior renascia. Não encontrava maneiras de se aproximar, nem mesmo de se desapaixonar.
Um dia, Luisa ao invés de engolir as palavras, engoliu a euforia e toda aquela chama, que decidiu: não mais transpareceria. Disse algumas palavras, percebendo que por dentro morria. Ele fora muito gentil, e ela notara que desnecessária ansiosidade sua mente fortalecia.
*Inspirada pela música “Cherry Blossom Girl” da dupla Air.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Catarina
O vento estava forte. O tempo claramente anunciava que choveria em breve. Enquanto isso, no seu quarto, Catarina tentava escolher o melhor vestido que tinha. Difícil tarefa.
Ela tirou todas as roupas do armário e colocou-as em cima da cama. Sabia que a mãe reclamaria, mas essa era uma situação de emergência. Separou todos os vestidos num canto, olhou-os de cabo a rabo, pegou-os nas mãos, sentiu seus tecidos, examinou suas cores e seus perfumes. Não resolvera nada.
Já passava das sete e meia. Se não andasse rápido, estaria atrasada.
Pegou um tomara-que-caia rosa, curto, acima do joelho, e foi experimentar. Olhou sua figura no espelho, embutida naquele borrão rosa. Ficara horrível. Apertado demais. As pernas apareciam demais. Em seguida, experimentara um azul claro, abaixo do joelho. Parecia uma freira.
Seus vestidos pareciam simplesmente horríveis naquele momento. A angústia de não ter o que vestir subiu à cabeça, deixando-a estourando de dor. Começara a chorar sem lágrimas, bater os pés sem emitir som algum, – chão revestido por carpete – olhar pela janela ansiosamente.
Olhou o relógio. Ainda restava tempo. Quem sabe não poderia ir à alguma das lojas que ficavam perto de sua casa e comprar um lindo e estonteante vestido? Colocou calças jeans, uma camiseta e tênis. Quando chegou à fachada da casa, percebera que estava chovendo. Voltou e pegou o guarda-chuva florido de sua mãe.
Lá fora a ventania quase não a deixava andar e, se não tivesse segurado um pouco mais firme, teria levado seu protetor de chuva embora.
Andou por alguns metros até encontrar algo interessante em uma das vitrines. Entrou na loja e experimentara um belo vestido verde, justo na medida certa, possuindo o comprimento que nem sabia que desejava. Por fim, comprou-o.
Voltou para casa, maquiou-se, penteou os cabelos, – que àquela altura já estavam com a escova desfeita – escolheu uma bolsa, colocou seus objetos indispensáveis lá dentro. Desceu as escadas e esperou.
Sentada no sofá, lembrou-se de que talvez a ventania levantasse seu vestido. Ela só estava de calcinha. Resolveu colocar um short por baixo.
Desceu novamente. Após ficar alguns minutos sentada, resolveu ir até a janela para ver se ele não estaria chegando. Nada.
Duas horas se passaram e nada de ninguém chegar. O telefone não tocou sequer uma vez. Ela foi até o computador para checar os e-mails; sua caixa de entrada estava vazia. Conectou-se em um programa de mensagem instantânea para verificar se ele não estava on-line ou se havia mandado algum recado para ela. Logou-se num site de relacionamentos para checar as mensagens. Por fim, ligou para ele. Não obteve resposta.
Meia hora se passou. Resolveu pegar um ônibus e seguir até o local que haviam marcado de ir. Pegou novamente o guarda-chuva, que não combinava nem um pouco com o vestido, e foi para o ponto. Nenhum ônibus passava naquele feriado. Após quarenta minutos de espera, voltou para casa, desanimada.
Continuou sentada no sofá até o anoitecer. Chegou a cair no sono. Passou a noite lá, sem perceber. Acordou de manhãzinha e ligou novamente para ele, que não atendeu.
Foi para o quarto e enterrou a cabeça nos travesseiros. Chorou, nem sabe-se dizer por quanto tempo. A única coisa que se pode determinar é que aquela parte de seu coração ficara quebrada pela vida inteira.
Ela tirou todas as roupas do armário e colocou-as em cima da cama. Sabia que a mãe reclamaria, mas essa era uma situação de emergência. Separou todos os vestidos num canto, olhou-os de cabo a rabo, pegou-os nas mãos, sentiu seus tecidos, examinou suas cores e seus perfumes. Não resolvera nada.
Já passava das sete e meia. Se não andasse rápido, estaria atrasada.
Pegou um tomara-que-caia rosa, curto, acima do joelho, e foi experimentar. Olhou sua figura no espelho, embutida naquele borrão rosa. Ficara horrível. Apertado demais. As pernas apareciam demais. Em seguida, experimentara um azul claro, abaixo do joelho. Parecia uma freira.
Seus vestidos pareciam simplesmente horríveis naquele momento. A angústia de não ter o que vestir subiu à cabeça, deixando-a estourando de dor. Começara a chorar sem lágrimas, bater os pés sem emitir som algum, – chão revestido por carpete – olhar pela janela ansiosamente.
Olhou o relógio. Ainda restava tempo. Quem sabe não poderia ir à alguma das lojas que ficavam perto de sua casa e comprar um lindo e estonteante vestido? Colocou calças jeans, uma camiseta e tênis. Quando chegou à fachada da casa, percebera que estava chovendo. Voltou e pegou o guarda-chuva florido de sua mãe.
Lá fora a ventania quase não a deixava andar e, se não tivesse segurado um pouco mais firme, teria levado seu protetor de chuva embora.
Andou por alguns metros até encontrar algo interessante em uma das vitrines. Entrou na loja e experimentara um belo vestido verde, justo na medida certa, possuindo o comprimento que nem sabia que desejava. Por fim, comprou-o.
Voltou para casa, maquiou-se, penteou os cabelos, – que àquela altura já estavam com a escova desfeita – escolheu uma bolsa, colocou seus objetos indispensáveis lá dentro. Desceu as escadas e esperou.
Sentada no sofá, lembrou-se de que talvez a ventania levantasse seu vestido. Ela só estava de calcinha. Resolveu colocar um short por baixo.
Desceu novamente. Após ficar alguns minutos sentada, resolveu ir até a janela para ver se ele não estaria chegando. Nada.
Duas horas se passaram e nada de ninguém chegar. O telefone não tocou sequer uma vez. Ela foi até o computador para checar os e-mails; sua caixa de entrada estava vazia. Conectou-se em um programa de mensagem instantânea para verificar se ele não estava on-line ou se havia mandado algum recado para ela. Logou-se num site de relacionamentos para checar as mensagens. Por fim, ligou para ele. Não obteve resposta.
Meia hora se passou. Resolveu pegar um ônibus e seguir até o local que haviam marcado de ir. Pegou novamente o guarda-chuva, que não combinava nem um pouco com o vestido, e foi para o ponto. Nenhum ônibus passava naquele feriado. Após quarenta minutos de espera, voltou para casa, desanimada.
Continuou sentada no sofá até o anoitecer. Chegou a cair no sono. Passou a noite lá, sem perceber. Acordou de manhãzinha e ligou novamente para ele, que não atendeu.
Foi para o quarto e enterrou a cabeça nos travesseiros. Chorou, nem sabe-se dizer por quanto tempo. A única coisa que se pode determinar é que aquela parte de seu coração ficara quebrada pela vida inteira.
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