O vento estava forte. O tempo claramente anunciava que choveria em breve. Enquanto isso, no seu quarto, Catarina tentava escolher o melhor vestido que tinha. Difícil tarefa.
Ela tirou todas as roupas do armário e colocou-as em cima da cama. Sabia que a mãe reclamaria, mas essa era uma situação de emergência. Separou todos os vestidos num canto, olhou-os de cabo a rabo, pegou-os nas mãos, sentiu seus tecidos, examinou suas cores e seus perfumes. Não resolvera nada.
Já passava das sete e meia. Se não andasse rápido, estaria atrasada.
Pegou um tomara-que-caia rosa, curto, acima do joelho, e foi experimentar. Olhou sua figura no espelho, embutida naquele borrão rosa. Ficara horrível. Apertado demais. As pernas apareciam demais. Em seguida, experimentara um azul claro, abaixo do joelho. Parecia uma freira.
Seus vestidos pareciam simplesmente horríveis naquele momento. A angústia de não ter o que vestir subiu à cabeça, deixando-a estourando de dor. Começara a chorar sem lágrimas, bater os pés sem emitir som algum, – chão revestido por carpete – olhar pela janela ansiosamente.
Olhou o relógio. Ainda restava tempo. Quem sabe não poderia ir à alguma das lojas que ficavam perto de sua casa e comprar um lindo e estonteante vestido? Colocou calças jeans, uma camiseta e tênis. Quando chegou à fachada da casa, percebera que estava chovendo. Voltou e pegou o guarda-chuva florido de sua mãe.
Lá fora a ventania quase não a deixava andar e, se não tivesse segurado um pouco mais firme, teria levado seu protetor de chuva embora.
Andou por alguns metros até encontrar algo interessante em uma das vitrines. Entrou na loja e experimentara um belo vestido verde, justo na medida certa, possuindo o comprimento que nem sabia que desejava. Por fim, comprou-o.
Voltou para casa, maquiou-se, penteou os cabelos, – que àquela altura já estavam com a escova desfeita – escolheu uma bolsa, colocou seus objetos indispensáveis lá dentro. Desceu as escadas e esperou.
Sentada no sofá, lembrou-se de que talvez a ventania levantasse seu vestido. Ela só estava de calcinha. Resolveu colocar um short por baixo.
Desceu novamente. Após ficar alguns minutos sentada, resolveu ir até a janela para ver se ele não estaria chegando. Nada.
Duas horas se passaram e nada de ninguém chegar. O telefone não tocou sequer uma vez. Ela foi até o computador para checar os e-mails; sua caixa de entrada estava vazia. Conectou-se em um programa de mensagem instantânea para verificar se ele não estava on-line ou se havia mandado algum recado para ela. Logou-se num site de relacionamentos para checar as mensagens. Por fim, ligou para ele. Não obteve resposta.
Meia hora se passou. Resolveu pegar um ônibus e seguir até o local que haviam marcado de ir. Pegou novamente o guarda-chuva, que não combinava nem um pouco com o vestido, e foi para o ponto. Nenhum ônibus passava naquele feriado. Após quarenta minutos de espera, voltou para casa, desanimada.
Continuou sentada no sofá até o anoitecer. Chegou a cair no sono. Passou a noite lá, sem perceber. Acordou de manhãzinha e ligou novamente para ele, que não atendeu.
Foi para o quarto e enterrou a cabeça nos travesseiros. Chorou, nem sabe-se dizer por quanto tempo. A única coisa que se pode determinar é que aquela parte de seu coração ficara quebrada pela vida inteira.
4 comentários:
Muito legal a história.
Me parece real e um tanto verídica.
Qual a menina que nunca passou por isso?
Parabéns pelo post ;)
NOSSA, vai chegando o final da história e vai me dando uma angústia, muito triste isso! Pensei que ela iria ficar sentada no sofá pelo resto da vida, até que se entrega ao choro. Nossa muito boa a história, eu consegui montar na minha tela mental cada passo da personagem e acabamos nos envolvendo aos poucos com cada atitude dela...Poderia virar um curta metragem *-*
é envolvente!
E no final dá uma angustia...
Muito bem escrito
muito legal
no final da uma angustia...
parabéns pelo blog.
Sucesso.
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