Como tu acaricias a minha pele,
alma... Como beijas o meu corpo,
alma... Sinto-me até sufocada
tamanha é a plenitude que me causas.
E teu beijo conhece os meus mais
íntimos anseios, e compreende
as mais profundas ambiguidades
do meu ser... Morro.
E nos meus próprios devaneios
tu me persegues com teu
sentimento aflorado e tua
mania de infinito contra a minha pele... Mania.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
trecho...
- E você, Sara, não vai dizer nada? – dissera, sorrindo.
Sua voz soava tão macia que acariciava os ouvidos de Sara. Seus olhos perturbadores a fitavam. Ela sentira falta disso. Principalmente daquele sorriso. Aquela pergunta a desconcertara. Não soara grosseira, soara dócil. Talvez por isso.
- Ah... Nem sei o que dizer.
- A mesma de sempre – dissera, revirando os olhos.
- Mas... – começara – que bom que você apareceu. Também fiquei preocupada.
- Que bom. Já estava achando que o Ben tinha te arrastado para cá só para me convencer da existência de mais alguém no mundo que gosta de mim, além dele.
Sara sorrira timidamente.
- Queria mostrá-los uma coisa. Vamos ao meu quarto – dissera, começando a subir os degraus.
O quarto de Bernardo era completamente bagunçado. Havia uma pilha de papéis – em cima de uma escrivaninha – junta a diversas canetas e lápis. Do lado da mesma escrivaninha encontravam-se alguns CD’s amontoados. A cama estava parcialmente arrumada. O computador estava ligado.
- Desculpem-me pela bagunça. Não planejava receber alguém hoje – dissera, encaminhando-se para a pilha de papéis – Era isso que queria mostrar.
Bernardo suspendera o papel com as mãos, colocando-o no campo de visão dos outros dois.
- O que é isso? – perguntara Sara.
- É só uma coisa que estou tentando escrever. Um roteiro.
- Hmm... – dissera, pegando o papel das mãos dele.
Ben estava atrás dela, também passando os olhos pelas palavras escritas à mão por Bernardo.
- Acho que não está muito bom.
- Corta essa. Você sabe que escreve muito bem – dissera Ben, intolerante. – Preciso ir ao banheiro.
Sara continuara lendo. Na verdade, estava passando os olhos pela mesma frase, no topo da página, diversas vezes. Não conseguia se concentrar com o olhar de Bernardo pairando sobre ela.
- Senta aí – convidara, dirigindo-se a um sofá localizado abaixo da janela.
Sara sentara-se. Tinha conseguido ler mais algumas frases. Tirara sua própria conclusão.
- Está muito bom. Muito bom mesmo.
- Obrigado.
- Parece um filme promissor. Adoro drama.
Bernardo sorrira.
- Posso levar para casa para terminar de ler?
- Claro.
Um minuto se passara. Sara pensava se faria ou não uma pergunta.
- Por que você sumiu? – deixara escapar, não conseguindo disfarçar o pesar da voz.
Bernardo suspirara e respondera:
- É complicado. Na verdade, não tenho me sentido muito bem.
- O que tem sentido?
- Tédio de viver – sorrira melancolicamente. Depois apoiara os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos.
- Mas por quê? – Sara perguntava incrédula e, ao mesmo tempo, sentida.
- Porque sou assim. De vez em quando mais, de vez em quando menos. Sempre assim. – dissera, quase sussurrando. Recostara-se nas costas do sofá – A vida, às vezes, parece tão sem motivo, sem sentido.
- Eu também já passei por momentos difíceis. Pode parecer ridículo, mas quando meus pais se separaram há algumas semanas atrás, fiquei muito mal. Senti-me despedaçada. Parecia que uma parte de mim tinha ido embora e nunca mais voltaria. Mas já estou melhor – dissera, entrelaçando seus dedos nos dele – E você também vai ficar. A vida não é fácil e é tediosa, sim, às vezes. Mas a gente tem que encontrar algo que acabe com esse tédio, que faça a vida parecer valer a pena.
- É exatamente isso: fazer a vida valer a pena.
Sara nem acreditava que ela própria houvesse acabado de fazer aquele discurso. Mais surreal ainda era ter pego na mão dele. Sentia que o fantasma de sua timidez fora vencido pelo desejo incontrolável de fazê-lo sentir-se melhor.
Ouvira passos no corredor. Ben estava voltando. Levantara-se rapidamente.
- Acho que tenho que ir embora – dissera, apressadamente – Até outro dia – e saíra do quarto, descendo as escadas quase correndo.
Ao chegar na rua, sentira-se aliviada. Aliviada por ter conseguido agir daquela forma; aliviada por ter conseguido sair da casa; aliviada – mais do que tudo – por ter sentido aquela pele incrivelmente suave sob sua pele.
Texto extraído do meu "livro", "Confissões".
Acho que precisava de alguém pra fazer isso por mim. Acho que precisava de alguém por quem fazer isso.
Sua voz soava tão macia que acariciava os ouvidos de Sara. Seus olhos perturbadores a fitavam. Ela sentira falta disso. Principalmente daquele sorriso. Aquela pergunta a desconcertara. Não soara grosseira, soara dócil. Talvez por isso.
- Ah... Nem sei o que dizer.
- A mesma de sempre – dissera, revirando os olhos.
- Mas... – começara – que bom que você apareceu. Também fiquei preocupada.
- Que bom. Já estava achando que o Ben tinha te arrastado para cá só para me convencer da existência de mais alguém no mundo que gosta de mim, além dele.
Sara sorrira timidamente.
- Queria mostrá-los uma coisa. Vamos ao meu quarto – dissera, começando a subir os degraus.
O quarto de Bernardo era completamente bagunçado. Havia uma pilha de papéis – em cima de uma escrivaninha – junta a diversas canetas e lápis. Do lado da mesma escrivaninha encontravam-se alguns CD’s amontoados. A cama estava parcialmente arrumada. O computador estava ligado.
- Desculpem-me pela bagunça. Não planejava receber alguém hoje – dissera, encaminhando-se para a pilha de papéis – Era isso que queria mostrar.
Bernardo suspendera o papel com as mãos, colocando-o no campo de visão dos outros dois.
- O que é isso? – perguntara Sara.
- É só uma coisa que estou tentando escrever. Um roteiro.
- Hmm... – dissera, pegando o papel das mãos dele.
Ben estava atrás dela, também passando os olhos pelas palavras escritas à mão por Bernardo.
- Acho que não está muito bom.
- Corta essa. Você sabe que escreve muito bem – dissera Ben, intolerante. – Preciso ir ao banheiro.
Sara continuara lendo. Na verdade, estava passando os olhos pela mesma frase, no topo da página, diversas vezes. Não conseguia se concentrar com o olhar de Bernardo pairando sobre ela.
- Senta aí – convidara, dirigindo-se a um sofá localizado abaixo da janela.
Sara sentara-se. Tinha conseguido ler mais algumas frases. Tirara sua própria conclusão.
- Está muito bom. Muito bom mesmo.
- Obrigado.
- Parece um filme promissor. Adoro drama.
Bernardo sorrira.
- Posso levar para casa para terminar de ler?
- Claro.
Um minuto se passara. Sara pensava se faria ou não uma pergunta.
- Por que você sumiu? – deixara escapar, não conseguindo disfarçar o pesar da voz.
Bernardo suspirara e respondera:
- É complicado. Na verdade, não tenho me sentido muito bem.
- O que tem sentido?
- Tédio de viver – sorrira melancolicamente. Depois apoiara os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos.
- Mas por quê? – Sara perguntava incrédula e, ao mesmo tempo, sentida.
- Porque sou assim. De vez em quando mais, de vez em quando menos. Sempre assim. – dissera, quase sussurrando. Recostara-se nas costas do sofá – A vida, às vezes, parece tão sem motivo, sem sentido.
- Eu também já passei por momentos difíceis. Pode parecer ridículo, mas quando meus pais se separaram há algumas semanas atrás, fiquei muito mal. Senti-me despedaçada. Parecia que uma parte de mim tinha ido embora e nunca mais voltaria. Mas já estou melhor – dissera, entrelaçando seus dedos nos dele – E você também vai ficar. A vida não é fácil e é tediosa, sim, às vezes. Mas a gente tem que encontrar algo que acabe com esse tédio, que faça a vida parecer valer a pena.
- É exatamente isso: fazer a vida valer a pena.
Sara nem acreditava que ela própria houvesse acabado de fazer aquele discurso. Mais surreal ainda era ter pego na mão dele. Sentia que o fantasma de sua timidez fora vencido pelo desejo incontrolável de fazê-lo sentir-se melhor.
Ouvira passos no corredor. Ben estava voltando. Levantara-se rapidamente.
- Acho que tenho que ir embora – dissera, apressadamente – Até outro dia – e saíra do quarto, descendo as escadas quase correndo.
Ao chegar na rua, sentira-se aliviada. Aliviada por ter conseguido agir daquela forma; aliviada por ter conseguido sair da casa; aliviada – mais do que tudo – por ter sentido aquela pele incrivelmente suave sob sua pele.
Texto extraído do meu "livro", "Confissões".
Acho que precisava de alguém pra fazer isso por mim. Acho que precisava de alguém por quem fazer isso.
Desejos
Queria dizer-te umas coisas,
entretanto tais coisas não direi...
Espera da minha boca saírem uns
suspiros, pois neles me dissolverei
e, quem sabe, a ausência da sílaba
pronunciada seja recompensada por
este ar ofegante que desde muito guardei.
Queria beijar-te com a ponta dos dedos e
com a boca umidecida, mas não o farei...
Espera meus olhos saírem a passear e
encontrarem os teus na penumbra
e, quem sabe, a renúncia declarada não
seja a oportunidade que faltava para
revelar-te estes versos em que me entreguei.
entretanto tais coisas não direi...
Espera da minha boca saírem uns
suspiros, pois neles me dissolverei
e, quem sabe, a ausência da sílaba
pronunciada seja recompensada por
este ar ofegante que desde muito guardei.
Queria beijar-te com a ponta dos dedos e
com a boca umidecida, mas não o farei...
Espera meus olhos saírem a passear e
encontrarem os teus na penumbra
e, quem sabe, a renúncia declarada não
seja a oportunidade que faltava para
revelar-te estes versos em que me entreguei.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Súplica
Quando a noite se abre,
sinto o temível hálito
das profundezas da solidão,
e vejo sua face encarar-me
como um mago à espera de um
evento próximo: a corrosão.
Entretanto, não deixo-me levar
pelas asas do pensamento,
amigo íntimo da madrugada.
Se ao amanhecer encontrar meu
peito ferido, por favor, não
esqueças de cobrir-me com o manto
quente de tua simples alvorada.
sinto o temível hálito
das profundezas da solidão,
e vejo sua face encarar-me
como um mago à espera de um
evento próximo: a corrosão.
Entretanto, não deixo-me levar
pelas asas do pensamento,
amigo íntimo da madrugada.
Se ao amanhecer encontrar meu
peito ferido, por favor, não
esqueças de cobrir-me com o manto
quente de tua simples alvorada.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Quimeras
Tenho um sonho e não
o conto para ninguém:
medo de ver a realidade
desmascarada e cheia de desdém.
Sonho meu, que sonho acordada ou
sonho dormindo: me faz apavorada
só de pensar em não te ver se abrindo
e reluzindo perante minh'alma.
Parece até que tenho uma rosa
cravada no peito: me fere
com teus espinhos e me acaricia
com tua pétala delicada.
Tenho pavor de perder-te ou
perder a mim nessa tua possível
estrada, porque um dia os sonhos
se vão, e a vida - esta - se acaba.
o conto para ninguém:
medo de ver a realidade
desmascarada e cheia de desdém.
Sonho meu, que sonho acordada ou
sonho dormindo: me faz apavorada
só de pensar em não te ver se abrindo
e reluzindo perante minh'alma.
Parece até que tenho uma rosa
cravada no peito: me fere
com teus espinhos e me acaricia
com tua pétala delicada.
Tenho pavor de perder-te ou
perder a mim nessa tua possível
estrada, porque um dia os sonhos
se vão, e a vida - esta - se acaba.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Carta ao leitor I
Nunca me apresentei da forma que deveria. Não que alguém esteja
interessado em saber algo sobre mim, mas quero que quem for que esteja lendo esta página me conheça melhor.
É estranho o fato de que as coisas mais pessoais e profundas do meu ser são publicadas aqui para qualquer um ler; coisas que nunca falo no cotidiano. Entretanto, o de mais superficial e visível a todos que me
circundam é esquecido perante a minha própria egocêntrica vontade de
desabafar tudo aquilo que anda preso e impregnado na pele, na alma.
É difícil falar sobre mim mesma em palavras curtas, em textos não
metafóricos; deve ser o medo da exposição.
Para começar, devo esclarecer - se é que já não está bem claro - o meu
amor pela escrita. E mais que amor até: é minha sobrevivência; a forma
que encontrei de me conhecer melhor e de entender o mundo. Não sei o
que seria de mim sem ela.
Igualmente, amo a música e toda sua teoria, ora complexa, ora simplória.
Adoro sentar ao piano e tocar Yann Tiersen, e também pegar o violão e
brincar de compor e imaginar pessoas cantando minhas canções. Minha
existência não seria a mesma sem estas pequenas grandes coisas.
Adoro cinema - e já tentei escrever roteiros diversas vezes - e seu
dom de levar seus telespectadores para além da própria imaginação.
Adoro livros e sua capacidade de transportar qualquer um para um mundo diferente, inexistente perante os olhos, mas presente na realidade da mente dos leitores.
Adoro rock dos anos 60, guitarras, Amélie Poulain, música clássica,
dias de chuva em casa, sotaque britânico, francês, cabelos pretos,
banda larga, ipod, dormir, conversar com quem gosto, sentir a afeição
alheia por mim, poesia, prosa, sonetos, florbela espanca, filmes
dramáticos, coisas românticas sem serem melosas, aulas de biologia,
documentários sobre animais e genética, receber elogios que nao me
deixem sem graça, me sentir a vontade, ser diferente.
Hoje, acabarei de ler "O morro dos ventos uivantes". Amanhã pretendo
começar a ler "O amor nos tempos do cólera".
Já li várias coisas. Me marcaram "Orgulho e Preconceito", "A menina que
roubava livros" e "Os sofrimentos do jovem Werther". Me entreteram "Diário da princesa", "Crepúsculo", "Gossip girl", e já fui viciada em "Harry Potter". Não gostei de "O caçador de pipas".
Meu gosto musical varia durante o tempo, mas raramemte deixo de gostar
de algum músico que escutei muito durante uma determinada época.
Gosto de filmes com uma bela fotografia e roteiro interessante,
intensos ou divertidos.
Sou extremamente introspectiva, vivo para dentro. Sou ansiosa,
teimosa, estranha, calada, antipática, ininteligível, desorganizada,
depressiva, sozinha, sensível, emotiva por dentro e casca dura por
fora, alvo fácil de críticas.
Um abraço e meus sinceros agradecimentos por me ler,
da autora.
interessado em saber algo sobre mim, mas quero que quem for que esteja lendo esta página me conheça melhor.
É estranho o fato de que as coisas mais pessoais e profundas do meu ser são publicadas aqui para qualquer um ler; coisas que nunca falo no cotidiano. Entretanto, o de mais superficial e visível a todos que me
circundam é esquecido perante a minha própria egocêntrica vontade de
desabafar tudo aquilo que anda preso e impregnado na pele, na alma.
É difícil falar sobre mim mesma em palavras curtas, em textos não
metafóricos; deve ser o medo da exposição.
Para começar, devo esclarecer - se é que já não está bem claro - o meu
amor pela escrita. E mais que amor até: é minha sobrevivência; a forma
que encontrei de me conhecer melhor e de entender o mundo. Não sei o
que seria de mim sem ela.
Igualmente, amo a música e toda sua teoria, ora complexa, ora simplória.
Adoro sentar ao piano e tocar Yann Tiersen, e também pegar o violão e
brincar de compor e imaginar pessoas cantando minhas canções. Minha
existência não seria a mesma sem estas pequenas grandes coisas.
Adoro cinema - e já tentei escrever roteiros diversas vezes - e seu
dom de levar seus telespectadores para além da própria imaginação.
Adoro livros e sua capacidade de transportar qualquer um para um mundo diferente, inexistente perante os olhos, mas presente na realidade da mente dos leitores.
Adoro rock dos anos 60, guitarras, Amélie Poulain, música clássica,
dias de chuva em casa, sotaque britânico, francês, cabelos pretos,
banda larga, ipod, dormir, conversar com quem gosto, sentir a afeição
alheia por mim, poesia, prosa, sonetos, florbela espanca, filmes
dramáticos, coisas românticas sem serem melosas, aulas de biologia,
documentários sobre animais e genética, receber elogios que nao me
deixem sem graça, me sentir a vontade, ser diferente.
Hoje, acabarei de ler "O morro dos ventos uivantes". Amanhã pretendo
começar a ler "O amor nos tempos do cólera".
Já li várias coisas. Me marcaram "Orgulho e Preconceito", "A menina que
roubava livros" e "Os sofrimentos do jovem Werther". Me entreteram "Diário da princesa", "Crepúsculo", "Gossip girl", e já fui viciada em "Harry Potter". Não gostei de "O caçador de pipas".
Meu gosto musical varia durante o tempo, mas raramemte deixo de gostar
de algum músico que escutei muito durante uma determinada época.
Gosto de filmes com uma bela fotografia e roteiro interessante,
intensos ou divertidos.
Sou extremamente introspectiva, vivo para dentro. Sou ansiosa,
teimosa, estranha, calada, antipática, ininteligível, desorganizada,
depressiva, sozinha, sensível, emotiva por dentro e casca dura por
fora, alvo fácil de críticas.
Um abraço e meus sinceros agradecimentos por me ler,
da autora.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
além de mim
O mundo faz um peso imenso sobre mim, enquanto eu mesma me faço triste e melancólica, sozinha e cada vez mais abandonada.
Minhas esperanças moram num território nunca antes pisado, em pessoas nunca antes conhecidas, em sentimentos nunca experimentados.
Meu sossego é a palavra, o som.
Minha tristeza ultrapassa os limites das lágrimas e da capacidade de comunicação estabelecidas, mais uma vez, pela palavra, pelo som.
Sou a encarnação do desassossego e do desespero, e os remédios não fazem efeito.
-
Cadê meus versos? Cadê? Nem sequer consigo mais escrever.
Minhas esperanças moram num território nunca antes pisado, em pessoas nunca antes conhecidas, em sentimentos nunca experimentados.
Meu sossego é a palavra, o som.
Minha tristeza ultrapassa os limites das lágrimas e da capacidade de comunicação estabelecidas, mais uma vez, pela palavra, pelo som.
Sou a encarnação do desassossego e do desespero, e os remédios não fazem efeito.
-
Cadê meus versos? Cadê? Nem sequer consigo mais escrever.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
sonhos
E quando a mente sente o cheiro da cama, o roçar dos lençóis, o aconchegante cheiro do descanso; é neste momento que nascem os sonhos.
Há umas sonecas inesquecíveis; há vezes que não quero despertar da minha liberdade aprisionada: simplesmente desejo permanecer nos lugares mais misteriosos e pitorescos da minha individualidade.
A insanidade é completa quando a rota - o caminho cheio de oportunidades de contos-de-fada ou filmes de terror – encontra você. Sim, você, que não sei quem é, e nem sei se sabe quem sou ou se existe.
Por isso, acredito que é possivelmente mais fácil encontrar um sentido completamente desprovido de senso no isolamento que solta no mundo.
Há umas sonecas inesquecíveis; há vezes que não quero despertar da minha liberdade aprisionada: simplesmente desejo permanecer nos lugares mais misteriosos e pitorescos da minha individualidade.
A insanidade é completa quando a rota - o caminho cheio de oportunidades de contos-de-fada ou filmes de terror – encontra você. Sim, você, que não sei quem é, e nem sei se sabe quem sou ou se existe.
Por isso, acredito que é possivelmente mais fácil encontrar um sentido completamente desprovido de senso no isolamento que solta no mundo.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
coisas da minha cabeça (?)
Os nervos, membros, músculos; o peito, os olhos... Tudo está fatigado,
morto.
Falta um tanto de mim para eu começar a ser eu mesma. Falta um tanto
de tudo para nada mais ser vão.
Parte de quem deveria ser está ausente; melhor: sempre esteve.
Mal consigo sustentar meu corpo sobre o chão, tamanha é a
insustentabilidade do meu ser; tamanho é o piso em falso e o
afogamento - quem sabe, abstrato.
morto.
Falta um tanto de mim para eu começar a ser eu mesma. Falta um tanto
de tudo para nada mais ser vão.
Parte de quem deveria ser está ausente; melhor: sempre esteve.
Mal consigo sustentar meu corpo sobre o chão, tamanha é a
insustentabilidade do meu ser; tamanho é o piso em falso e o
afogamento - quem sabe, abstrato.
domingo, 22 de novembro de 2009
nada além das palavras...
Escrevo como quem sente o último suspiro de um sentimento exagerado. Tento transmitir de forma ardente e insaciável tudo aquilo que espasma dentro de um peito como o meu para não permitir que vá embora sem deixar alguma lembrança.
Escrevo para viver e me ver através de uma reunião de palavras ora reluzentes, ora embaçadas.
Depois do trabalho feito, quando algum dos meus muitos eus esbarra em mim, sinto saudade daquilo que escrevi por sentir, visto que não sinto mais...
Escrevo para viver e me ver através de uma reunião de palavras ora reluzentes, ora embaçadas.
Depois do trabalho feito, quando algum dos meus muitos eus esbarra em mim, sinto saudade daquilo que escrevi por sentir, visto que não sinto mais...
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
O eu mais interior
Pareço ser inatingível porque sempre estou distante. Não me culpe se há algo insólito neste meu estranho infinito que vive para me distrair.
Há coisas em todos os cantos do meu ser que não me deixam em paz. Sou cheia de inconstâncias e olhares perdidos. Desejo não dividir meu tudo com os demais.
Há coisas em todos os cantos do meu ser que não me deixam em paz. Sou cheia de inconstâncias e olhares perdidos. Desejo não dividir meu tudo com os demais.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Das profundezas
Eu queria ter por um instante - e só por um momento - um punhal cravado em meu peito de insana insaciedade que me acalentasse nos invernos dos verões inatingíveis. E não para que o calor se tornasse mais próximo. Deve tornar-se parte de mim.
Queria que meus olhos mergulhassem trôpegos por caminhos desconhecidos de linhas curvas, turvas, tórridas, conhecidas, porém não memorizadas para melhor serem ressurgidas.
É óbvio que todo o percurso estaria gravado em minha mente como nenhuma coisa outra... mas é melhor fingir que não. Deve ser mais saboroso sentir o delirante coração palpitante como se fosse a primeira vez de todas as estações.
Imagino. Fico só por imaginar a essência e a gravidade do ar, a entoação de suas notas musicais e de seus cantos sem iguais.
Sinto.
Queria que meus olhos mergulhassem trôpegos por caminhos desconhecidos de linhas curvas, turvas, tórridas, conhecidas, porém não memorizadas para melhor serem ressurgidas.
É óbvio que todo o percurso estaria gravado em minha mente como nenhuma coisa outra... mas é melhor fingir que não. Deve ser mais saboroso sentir o delirante coração palpitante como se fosse a primeira vez de todas as estações.
Imagino. Fico só por imaginar a essência e a gravidade do ar, a entoação de suas notas musicais e de seus cantos sem iguais.
Sinto.
domingo, 15 de novembro de 2009
Vulcões
Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal
Não tem a lividez sinistra da montanha
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
De neve branca e fria onde o luar se banha.
No entanto que fogo, que lavas, a montanha
Oculta no seu seio de lividez fatal!
Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A fria neve envolve em seu vestido ideal!
No gelo da indiferença ocultam-se as paixões
Como no gelo frio do cume da montanha
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…
Assim quando eu te falo alegre, friamente,
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!
Florbela Espanca
Não tem a lividez sinistra da montanha
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
De neve branca e fria onde o luar se banha.
No entanto que fogo, que lavas, a montanha
Oculta no seu seio de lividez fatal!
Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A fria neve envolve em seu vestido ideal!
No gelo da indiferença ocultam-se as paixões
Como no gelo frio do cume da montanha
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…
Assim quando eu te falo alegre, friamente,
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!
Florbela Espanca
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Efêmero
Lúcia possuía cabelos louros e longos que se distendiam pelas suas costas até a altura do quadril. Sua pele branca revelava o bronze dos dias ensolarados e quentes do verão. O corpo esguio, porém não muito magricela, com suas pernas compridas e seios fartos, tornava o sexo oposto não muito mais que poeira de rua.
E ela caminhava, de cabeça erguida e nariz muito além de empinado, pelos arredores da cidade, destilando o doce aroma de seus cabelos e o perigoso espírito juvenil de garota padronizada, de mulher distante.
Todos os dias, chegava em casa e se encaminhava direto para o espelho, onde permanecia durante um longo tempo – até horas, se não encontrasse nada melhor para fazer – observando a própria imagem, louvando o dom divino que Deus lhe dera e imaginando o que se passava na cabeça daqueles que a desejavam com tanto fervor que chegava a doer. E agradava a todos os gostos: desde os músicos enigmáticos aos solitários de plantão. E a embevecia os olhares pecaminosos e boquiabertos que a vislumbravam, a atenção unânime que recebia, o desprezo que se refletia nos olhos dos admiradores.
Um dia, Lúcia caminhava pela rua. Uma menina gorda e muito pálida chamou a sua atenção. Olhou-a fixamente, reparando no seu jeito de caminhar e de se vestir, se perguntando como Deus poderia aceitar mandar uma criatura daquelas, tão feia, tão gorda, de péssimo gosto, para o mundo. Pelo amor de Deus, pensava, se fosse ela preferiria morrer; nunca, nem ao menos, deve ter sentido o toque de uns lábios nos próprios lábios, e nem deve ter amigos.
A distração e o divertimento foram tantos, que Lúcia passou a encarar este ofício como um passatempo. Era só passar alguém que fugia de seus padrões, que dava início ao julgamento mental, preconceito. E era a mesma coisa todos os dias, e a cada dia um novo objeto: um mendigo imundo que permanecia deitado na calçada da esquina da rua que passava para ir ao colégio – perguntava-se como uma pessoa poderia estender-lhe a mão para entregá-lo alguma moeda, tendo como penitência o toque sujo do ser descriminado; um menino que sempre andava de cabeça baixa pelas ruas, solitário e parecendo ausente, lunático; uma pessoa ali, outra aqui.
Quando menos esperava e proporcionalmente ao crescimento do vício, tudo isso fora insuficiente: era preciso exteriorizar suas impressões. E como Lúcia magoou diverso tipo de gente. E como sua legião de seguidores adorava ouvir suas opiniões.
Numa tarde de verão, – a estação preferida da garota – no auge da popularidade e no frescor da época das delícias de adolescente, dava sua cotidiana volta pela cidade, quando um daqueles objetos de diversão chamou-lhe a atenção, e tanto, que Lúcia se distraiu, foi atropelada, e morreu. E nada restou. Nenhum resquício da beleza; muito menos um mau pensamento.
Como diz Vinícius de Morais: de repente, não mais que de repente...
E ela caminhava, de cabeça erguida e nariz muito além de empinado, pelos arredores da cidade, destilando o doce aroma de seus cabelos e o perigoso espírito juvenil de garota padronizada, de mulher distante.
Todos os dias, chegava em casa e se encaminhava direto para o espelho, onde permanecia durante um longo tempo – até horas, se não encontrasse nada melhor para fazer – observando a própria imagem, louvando o dom divino que Deus lhe dera e imaginando o que se passava na cabeça daqueles que a desejavam com tanto fervor que chegava a doer. E agradava a todos os gostos: desde os músicos enigmáticos aos solitários de plantão. E a embevecia os olhares pecaminosos e boquiabertos que a vislumbravam, a atenção unânime que recebia, o desprezo que se refletia nos olhos dos admiradores.
Um dia, Lúcia caminhava pela rua. Uma menina gorda e muito pálida chamou a sua atenção. Olhou-a fixamente, reparando no seu jeito de caminhar e de se vestir, se perguntando como Deus poderia aceitar mandar uma criatura daquelas, tão feia, tão gorda, de péssimo gosto, para o mundo. Pelo amor de Deus, pensava, se fosse ela preferiria morrer; nunca, nem ao menos, deve ter sentido o toque de uns lábios nos próprios lábios, e nem deve ter amigos.
A distração e o divertimento foram tantos, que Lúcia passou a encarar este ofício como um passatempo. Era só passar alguém que fugia de seus padrões, que dava início ao julgamento mental, preconceito. E era a mesma coisa todos os dias, e a cada dia um novo objeto: um mendigo imundo que permanecia deitado na calçada da esquina da rua que passava para ir ao colégio – perguntava-se como uma pessoa poderia estender-lhe a mão para entregá-lo alguma moeda, tendo como penitência o toque sujo do ser descriminado; um menino que sempre andava de cabeça baixa pelas ruas, solitário e parecendo ausente, lunático; uma pessoa ali, outra aqui.
Quando menos esperava e proporcionalmente ao crescimento do vício, tudo isso fora insuficiente: era preciso exteriorizar suas impressões. E como Lúcia magoou diverso tipo de gente. E como sua legião de seguidores adorava ouvir suas opiniões.
Numa tarde de verão, – a estação preferida da garota – no auge da popularidade e no frescor da época das delícias de adolescente, dava sua cotidiana volta pela cidade, quando um daqueles objetos de diversão chamou-lhe a atenção, e tanto, que Lúcia se distraiu, foi atropelada, e morreu. E nada restou. Nenhum resquício da beleza; muito menos um mau pensamento.
Como diz Vinícius de Morais: de repente, não mais que de repente...
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Paradoxos
Tudo é diferente, tudo é igual.
Matar alguém, matar a si mesmo.
Morrer por amor, morrer de dor.
Viver sem motivo, viver feliz.
Chorar de angústia, chorar de felicidade.
Escrever sem dizer, dizer sem escrever.
Comer por fome, comer por gula.
Brigar por razão, brigar sem razão.
Lutar pelos direitos, não lutar.
Cantar com voz, cantar sem voz.
Amar, não amar.
Em tudo há uma dupla visão.
Da dupla visão nascem as controvérsias.
Nas controvérsias há sempre razão.
Da razão nascem os conflitos.
Nos conflitos há sempre contradições.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Valsa
Ninguém pode imaginar o quão é aflitivo o passar do tempo, o contar das horas, minutos, segundos, para mim. Olho para o relógio e percebo que meu tempo está acabando a cada minuto que passa; imagino o quanto minha vida está reduzida a cada momento. Quando começo a refletir sobre o que tenho feito durante todos estes anos de minha vida, minha angústia aumenta ainda mais; nunca fiz algo importante - talvez seja isso que realmente queira para mim.
Os dias apenas passam, passam; continuo aqui, parada. Quanto mais permaneço inerte, mais me acalmo, ao mesmo tempo em que mais me retardo e aflito; e isso porque quando não faço algo, parece que os ponteiros do relógio demoram mais a se mover; mas também percebo que perco meu tempo - essa indefinível borboleta que sempre voa para longe do meu alcance, que bate as asas num ritmo "valsado", que até parece um compasso binário, que até parece as batidas do meu coração.
Tempo, tempo... tempo, tempo.
Tic, tac... tic, tac.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Carta para Amélie Poulain
Como me encantaria ter prazeres doces, puros e incomuns - quando deveriam ser corriqueiros - como os seus. Na verdade, é como diz Werther: "...gostaria de ser um besourinho para encontrar neste oceano de perfumes a fonte de todo o meu alimento."
Como gostaria de ter uma casa tão colorida quanto a sua; talvez em função da falta de cor que tenho por dentro.
Como gostaria de ter um certo Sr. Dufayel para me aconselhar e me fazer descobrir que não tenho ossos de vidro; assim perderia todo o medo e me jogaria de vez desse penhasco, que tem lá embaixo essa coisa que chamam de vida. Por enquanto estou aqui em cima, minha cara. Longe de todos, de tudo.
Como gostaria de ter o meu próprio Nino, e que ele me fizesse andar de moto pelas ruas de Paris e me falasse lindas palavras em francês ao pé do ouvido. Se bem que essa última parte é querer demais: bastava ser meu como ele só era seu, amar-me como só ele te amava e soubesse me deixar feliz como só ele sabia te alegrar. Ma petit, como sou sozinha, não é? Por favor, não tenha pena.
Como gostaria de encontrar um objeto tão simples e velho, mas que me desse algum motivo para continuar a vida, que me desse um objetivo, uma razão. Perspectiva.
Agora, não fique brava comigo, mas como gostaria de parar de ter todos aqueles pensamentos de inferioridade que você tinha. E parar com toda aquela imaginação fértil também. E também com todo aquele modo tímido de dizer as palavras e de renunciar a vida.
Como gostaria de ter sido alguém no mundo como você foi e ainda é, de ter significado tanto quanto eu sei que você significa para esse milhar de garotas esquisitas, como eu - e como você - que se comoveram e se identificaram tanto com a sua história.
Ah, droga. Mas, admito: acima de tudo, talvez o que eu mais queira é ser justamente apenas o personagem de um filme de grandes sutileza, doçura, trilha sonora e fotografia como o seu; assim eu não existiria. Perdoe-me por palavras tão depressivas. Mas é que existir dói demais e é complicado demais; e viver consegue ser bem pior, justamente por isso.
Não peço que me entenda. Apenas me aceite.
Se não quiser ser minha amiga, compreenderei.
Tenha uma doce vida,
Bianca.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Cotidiano
Dias são como perdas:
propostas indecentes,
vem e vão sem remorso
e não olham para trás.
Passam, assim, despercebidos
e muitas vezes não fazem
sentido; ganham a vida
assim, por ganhar.
Nos fazem deprimentes,
pois nos tornam descrentes
daquilo em que acreditar.
Dias passam, inexistem
e, assim, como um poeta
sem palavras, vão deixando de brilhar.
domingo, 11 de outubro de 2009
Doce melancolia de uma tarde de domingo
Admito que não quero mais fazer nada:
gostaria de viver minha vida como se esta
toda fosse uma alvorada que não tivesse fim.
E queria seguir meus próprios passos, montar
meus calendários sem temer alguma data, morar
numa casa cheia de essência e poesia por si própria.
Também não nego que gostaria de uma mão que
afagasse meus cabelos quando estivesse triste, de
um ombro para poder chorar minhas lamúrias.
E queria pensar sobre nada. E queria flutuar por
sobre o universo, leve como uma brisa. E queria
viajar para muito longe, onde o vento me levasse.
Ah, doce melancolia de uma tarde de domingo,
tudo me diz que nada foi feito para ser assim. Não
foi feito o mundo pra mim, nem mim pro mundo.
sábado, 10 de outubro de 2009
Eu
Tenho medo do que me fez ficar assim
Apavoro-me quando penso que me perdi de mim.
Acostumei-me a imaginar que não consigo
ao mesmo tempo em que viciei-me no impossível.
Fiz de tudo para não chegar, de tudo para negar
aquilo que mata-me aos poucos. Mas cheguei; afirmei.
Esqueci do modo através do qual naufraguei;
e, se recordasse, suportaria?
Não sei de muita coisa... acabo escrevendo muito
mais do que sei.
Deve ser porque as páginas da minha vida
estão tão vazias, sem cor.
Ai, meu Deus, que dor!
O escafandro e a borboleta?
Hoje eu já cansei de pensar sobre tempos passados, ou de gastar lágrimas e horas com pensamentos gastos, embora estes sempre persigam a mim...
Hoje - e não somente - fui e sempre serei aquela de palavras e boca miúdas, sílabas curtas, gestos pequenos, imersa na própria ilusão, na desgastada solidão e no medo de viver...
Hoje eu acordei respirando música - ah! como gostaria que todos os meus dias fossem assim - sei lá porque; talvez porque não tenha obrigação alguma e nem o dever de fazer todas aquelas coisas ou de ver todas aquelas mesmas pessoas que não sei bem se gostam de mim...
Agora estou com ânsia de chorar; talvez pela reflexão feita através dessas linhas; talvez por ter percebido que sou nada mais, nada menos que uma alma amargurada neste caminho solitário que percorro desde que nasci.
Eu sei que sofro, e sinto culpa porque sofro. E lá vem outra sofreguidão: também sofro pela culpa...
Pode até parecer que estou plagiando as palavras de Jean-Do, mas não há coisa melhor para me descrever neste momento que a síntese de palavras o escafandro e a borboleta; também não há música que melhor se encaixe nesse momento que o tema do escafandro e a borboleta.
Bauby, você é uma infinita inspiração.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Medo da Eternidade
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas.
Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
Clarice Lispector
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas.
Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
Clarice Lispector
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Desencanto
Luz que iluminaria o meu pranto
Meus ouvidos acariciaria
Minha boca solveria neste quebranto:
o fim do dia encantaria.
Ao relento, primícias
Dentro, antropofagia:
Utopias noturnas reservo
tendo em vista a antologia.
Absorvo o tóxico entorpecente
Dos livros, poemas concernente:
Impulso ganhando a fantasia.
E, entre as paredes do espírito
trôpego, suscita a grande
d'outrora vida vazia.
Meus ouvidos acariciaria
Minha boca solveria neste quebranto:
o fim do dia encantaria.
Ao relento, primícias
Dentro, antropofagia:
Utopias noturnas reservo
tendo em vista a antologia.
Absorvo o tóxico entorpecente
Dos livros, poemas concernente:
Impulso ganhando a fantasia.
E, entre as paredes do espírito
trôpego, suscita a grande
d'outrora vida vazia.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Medo
Eu tenho medo de que minha vida seja nada...
Medo de não assistir nem
sequer uma alvorada brotar em mim...
Eu tenho medo de ter fases perdidas...
idades esquecidas... pesadelos eternos...
ao ponto de nem sequer mais lembrar de mim...
Eu tenho medo de viver ao relento...
cheia de tormento e ilusões fatigadas...
ao ponto de decidir a hora do meu próprio fim...
Eu tenho medo é de morrer assim...
ainda com sede do que deixei para
trás, de uma vida que nem teve fim...
Medo de não assistir nem
sequer uma alvorada brotar em mim...
Eu tenho medo de ter fases perdidas...
idades esquecidas... pesadelos eternos...
ao ponto de nem sequer mais lembrar de mim...
Eu tenho medo de viver ao relento...
cheia de tormento e ilusões fatigadas...
ao ponto de decidir a hora do meu próprio fim...
Eu tenho medo é de morrer assim...
ainda com sede do que deixei para
trás, de uma vida que nem teve fim...
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Rascunhos
Uma palavra
Um rabisco
Um pensamento
Uma lágrima
Uma dor
Um tormento
Um papel
Uma caneta
Um sustento
- Quarto adentro
passei parte da minha vida
fazendo rascunhos, escrevendo
coisas das quais nem me lembro.
Um rabisco
Um pensamento
Uma lágrima
Uma dor
Um tormento
Um papel
Uma caneta
Um sustento
- Quarto adentro
passei parte da minha vida
fazendo rascunhos, escrevendo
coisas das quais nem me lembro.
domingo, 13 de setembro de 2009
Palavras
Palavra. Há algo de insípido nela. Algo de totalmente desprovido de senso, cor ou memória; lágrima, riso ou doçura. É um desenho numa folha de papel. Nem chega a ser um vazio, um espaço em branco. É simplesmente o nada.
Mas palavra é visível. E só é visível a partir de um determinado ponto, momento, circunstância. Aí sim tudo ganha significado. Tudo ganha sentido. Seja lá o lamento, rancor ou ternura. Seja lá o amargo, o doce ou o sem gosto. Pois até o sem gosto tem gosto. E até o rancor tem ternura.
E é por isso que torna-se necessário o aprendizado da incoerência. É necessário aprender a romper a linha tênue entre a razão e a sensibilidade, pois incoerência é sentir. E quem não é incoerente que se contente com sua cegueira.
Mas palavra é visível. E só é visível a partir de um determinado ponto, momento, circunstância. Aí sim tudo ganha significado. Tudo ganha sentido. Seja lá o lamento, rancor ou ternura. Seja lá o amargo, o doce ou o sem gosto. Pois até o sem gosto tem gosto. E até o rancor tem ternura.
E é por isso que torna-se necessário o aprendizado da incoerência. É necessário aprender a romper a linha tênue entre a razão e a sensibilidade, pois incoerência é sentir. E quem não é incoerente que se contente com sua cegueira.
sábado, 12 de setembro de 2009
Fadiga
Dê-me mais um tempo para refletir,
pensar no que vivi! Estou tão cansada,
minha alma tão fatigada que já nem me
encontro mais nesse mundo vão...
Tenha dó, piedade do meu coração!
Meu estado é contemplativo aos olhos
de quem estuda os mistérios da solidão...
Não mais fale uma palavra!
Deixe-me sossegada e em paz para que
possa encontrar caminhos diferentes
dos da ilusão...
Mate-me ou deixe-me delirar através
das palavras: pontes que me levam a
um mundo de papel, de papelão...
pensar no que vivi! Estou tão cansada,
minha alma tão fatigada que já nem me
encontro mais nesse mundo vão...
Tenha dó, piedade do meu coração!
Meu estado é contemplativo aos olhos
de quem estuda os mistérios da solidão...
Não mais fale uma palavra!
Deixe-me sossegada e em paz para que
possa encontrar caminhos diferentes
dos da ilusão...
Mate-me ou deixe-me delirar através
das palavras: pontes que me levam a
um mundo de papel, de papelão...
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